Título: Petrobrás diz que empréstimo é trivial
Autor: Lima, Kelly; Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/11/2008, Economia, p. B6

O diretor financeiro da Petrobrás, Almir Barbassa, disse ontem que a operação de financiamento de R$ 2,022 bilhões com a Caixa Econômica Federal é ¿trivial¿ e não representa problemas de solvência da companhia, conforme críticas feitas na noite de anteontem pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Barbassa admitiu, também, que a estatal pode voltar a mercado este ano, se houver necessidade. Diante da dificuldade de captação no exterior, analistas consideram natural a opção por bancos brasileiros.

¿É uma operação normal, trivial. É o meu dia-a-dia. Sou pago para isso¿, disse o diretor financeiro da Petrobrás, Almir Barbassa, atenuando a importância do empréstimo diante do volume de recursos movimentado pela companhia. ¿Qual o problema de recorrer ao mercado nacional? Qual é o problema da Caixa? Não vejo nenhum. Quando preciso fazer uma operação, busco quem pode e quem o faz em melhores condições. Então elejo este banco. A Caixa não rompeu nenhuma lei ao conceder este empréstimo¿, completou o executivo.

Em nota distribuída no início do dia, a Petrobrás informou que teve gastos extras de R$ 11,4 bilhões com impostos e taxas, referentes ao lucro recorde do terceiro trimestre de 2008. A companhia fechou o terceiro trimestre com R$ 10,776 bilhões em caixa, o pior resultado desde o fim de 2000, desempenho influenciado pela redução das margens operacionais em um período de altos investimentos. Logo após o anúncio do resultado, Barbassa admitiu que a companhia gostaria de estar mais atuante no mercado.

Embora vejam exagero no Jereissati sobre a situação financeira da companhia, analistas do mercado financeiro afirmaram ontem que a Petrobrás não é diferente de outras empresas neste momento de crise e pode ter dificuldades na gestão do caixa. ¿É uma miopia dizer que a situação financeira da empresa não inspira cuidados. Mas também não é o fim do mundo¿, disse Paula Kovarsky, da Itaú Corretora. Com uma agravante: o preço do petróleo despencou cerca de 50% nos últimos meses, o que deve reduzir ainda mais a geração de caixa.

Apenas para cumprir seu programa de investimentos, a Petrobrás precisará de R$ 16 bilhões neste quarto trimestre. A projeção de geração de caixa da empresa situa-se em torno dos R$ 10 bilhões. Barbassa afirmou que a companhia procura novas oportunidades de captação. ¿Esperemos que venham outras operações este ano, dentro de um fluxo normal. Vamos ao mercado pelo mesmo motivo que fomos nas 20 vezes anteriores: manter a Petrobrás adimplente e capaz de cumprir seus investimentos¿, disse ele.

PREJUDICADA

Segundo analistas, a companhia está pouco alavancada e tem ainda grande potencial para tomar empréstimos, caso o mercado disponha de recursos disponíveis. Na avaliação do ex-gerente de Relações com Investidores da companhia, Raul Campos, hoje na Synergy Group, a Petrobrás foi prejudicada pela conjuntura mundial em um período em que normalmente concentra investimentos, além de pagar o 13º dos funcionários, que equivale a 25% do empréstimo feito à Caixa.

De fato, o nível de endividamento da companhia está em 14% do patrimônio líquido, segundo analistas, bem inferior ao verificado em outras petroleiras. Este ano, a companhia pegou US$ 6,7 bilhões em financiamentos, informou Barbassa. ¿Em maio ou junho, a Petrobrás tomaria este empréstimo sem nenhuma dificuldade e ninguém prestaria atenção, não seria novidade¿, afirmou Campos, lembrando que a compra da Ipiranga e da Suzano, além do pesado plano de investimentos, contribuiu para a redução do caixa da empresa.

¿Não posso adivinhar o que vai acontecer amanhã. O que eu posso fazer é trabalhar com o meu caixa adequadamente suprido. O que eu não devo fazer é especulação. É tentar ganhar dinheiro, como muita gente tenta fazer e depois dar com os burros n'água¿, rebateu Barbassa, respondendo a críticas de que a companhia vinha trabalhando com poucos recursos em caixa. Em seus melhores momentos, no fim de 2006, a disponibilidade de caixa da companhia chegou perto dos R$ 28 bilhões. No terceiro trimestre do ano passado, estava em R$ 17,853 bilhões.

A divulgação do empréstimo, feita na noite de anteontem,não teve grande impacto nas ações da empresa, que fecharam em queda de 2,4% no pregão de ontem da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), em linha com o desempenho da Vale, outra produtora de commodities, que caiu 2,5%. Desde a divulgação do balanço do terceiro trimestre, o mercado está mais preocupado com a evolução dos custos da companhia, que subiram em tempos de petróleo em alta e podem comprimir bastante as margens com o óleo em torno dos US$ 50 por barril.

¿Apesar de manter os valores dos preços do diesel e da gasolina, outros combustíveis tiveram seus preços reduzidos e isso impacta os resultados¿, comentou Paula, da Itaú, que espera um resultado baixo no quarto trimestre.