Título: Equipe escolhida terá de aplicar uma nova diplomacia
Autor: Sanger, David
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2008, Internacional, p. A13

Na equipe de segurança nacional do presidente eleito Barack Obama, anunciada ontem, estão dois veteranos da Guerra Fria e uma antiga rival. O histórico dos três, curiosamente, é mais belicoso do que o do futuro presidente, que terá de confrontá-los com freqüência na Casa Branca.

Contudo, as três escolhas - a senadora Hillary Clinton, como secretária de Estado; o general James Jones, como conselheiro de segurança nacional; e Robert Gates, como secretário de Defesa - ocorrem em um momento de mudança radical de prioridades e alocação de recursos na área de segurança nacional.

Essa mudança ampliaria o corpo diplomático e o número de pessoas para trabalhar com ajuda humanitária. Na visão de Obama, esse novo perfil da política externa americana seria muito mais engajado em evitar guerras e reconstruir Estados falidos.

SINTONIA

Saber se os três serão capazes de colocar em prática essas mudanças que o presidente eleito vem propondo desde que se lançou candidato, em 2007, ¿será o grande teste da política externa de Obama¿, disse um de seus assessores recentemente.

O assessor, que pediu para não ser identificado por não estar autorizado a falar publicamente sobre o assunto, afirmou que os três abraçaram a idéia de reequilibrar o papel da segurança nacional nos EUA após os investimentos maciços do governo George W. Bush para modernizar a capacidade militar americana.

No entanto, Denis McDonough, um dos principais assessores de política externa do presidente eleito, colocou a questão de uma maneira um pouco diferente em uma entrevista no domingo. ¿A indicação dos três não será um teste, mas sim uma solução pragmática para um problema que foi detectado há muito tempo¿, disse.

Para McDonough, durante a campanha, Obama investiu muito de seu tempo tentando se aproximar de militares aposentados e jovens oficiais que serviram no Iraque e no Afeganistão. O objetivo, segundo o assessor presidencial, era tirar conclusões sobre as lições que o governo deveria ter aprendido.

¿Não houve uma só reunião que não incluísse a discussão sobre a necessidade de fortalecer e integrar as outras ferramentas da máquina administrativa para superar as ameaças não convencionais¿, afirmou. ¿Isso será fundamental para uma estratégia de segurança nacional de sucesso no longo prazo¿, acrescentou.

OPOSIÇÃO

Os assessores de Obama dizem que estão prontos para enfrentar as acusações dos republicanos mais conservadores de que a presidência pretende investir demais em projetos sociais, ainda que o próprio presidente Bush tenha prometido a mesma coisa em uma série de discursos em 2005.

A equipe presidencial, porém, espera oposição também dentro do Partido Democrata, principalmente sobre se os bilhões de dólares que foram prometidos para o Afeganistão deveriam ser gastos na criação de empregos nos Estados Unidos.

O maior trunfo político de Obama será Robert Gates, ex-diretor da CIA e um veterano da Guerra Fria, que poucos meses atrás dizia que ¿era difícil acreditar em qualquer circunstância que o fizesse permanecer em seu cargo no Pentágono¿. Algum tempo depois, é exatamente isso que ele fará. Gates defende que o poderio militar em uma guerra tem um limite que, se for ultrapassado, torna a vitória impossível. Recentemente, ele denunciou o distanciamento dos EUA de seus aliados tradicionais. ¿É como se tivéssemos esquecido o que aprendemos no Vietnã¿, disse.

O escolhido de Obama para conselheiro de política externa, o general Jim Jones, avançou ainda mais nas críticas à guerra em uma série de depoimentos recentes apontando erros na condução e estratégia de Bush no Afeganistão - local para onde se espera que o futuro presidente envie os soldados retirados do Iraque.

ORÇAMENTO

Durante a campanha, Obama prometeu aumentar o esforço diplomático americano, principalmente no Afeganistão. No ano passado, ele disse que faria da diplomacia sua prioridade. ¿Em vez de fechar, deveríamos abrir mais embaixadas e consulados em regiões problemáticas do mundo¿, disse.

O presidente eleito afirmou também que dobraria o volume de ajuda humanitária americana, que chegaria a US$ 50 bilhões em 2012. Mas, recentemente, ele começou a suavizar o discurso e flexibilizar o prazo por causa da crise financeira. No entanto, ainda não está claro se o dinheiro para realizar todos os projetos será remanejado do orçamento do Pentágono. Até agora, o Congresso está relutante em seguir por esse caminho.

NOMES FORTES

Hillary Clinton

A senadora por Nova York disputou com Obama a indicação democrata à presidência

O que faz: Principal cargo diplomático, equivalente ao Ministério de Relações Exteriores. Coordena todas as atividades do governo americano no exterior, exceto militares

Tarefa: Maior missão é reabilitar a imagem dos EUA no mundo, mas também retomar negociações de paz entre israelenses e palestinos e lançar uma ofensiva diplomática para desarmar o Irã. Com os atentados em Mumbai, esfriar as tensões entre Índia e Paquistão entrou na agenda

Robert Gates

Secretário de Defesa de Bush, Gates tem experiência e boa reputação entre democratas

O que faz: responsável pela coordenação de toda segurança nacional, é o chefe das Forças Armadas, dos serviços de inteligência e órgãos de segurança

Tarefa: Grande desafio é iniciar a retirada das forças do Iraque sem levar o país ao caos. Além disso, Gates terá de montar a estratégia de aumento de soldados no Afeganistão para combater insurgentes da Al-Qaeda e do Taleban que atuam no país e no Paquistão