Título: Atividade industrial recua 1,7%
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2008, Economia, p. B3
Os resultados da produção industrial de outubro mostraram um desempenho pior do que o esperado pelos mais pessimistas - o crescimento foi de apenas 0,8% na comparação com outubro do ano passado, o pior resultado em quase dois anos. Em relação a setembro, houve queda de 1,7%. Com isso, o acumulado em 12 meses caiu, no curto espaço de um mês, de 6,8% para 5,9%.
Para Silvio Sales, coordenador de indústria do IBGE, é preciso esperar os dados da produção industrial de novembro e dezembro para checar como vão prosseguir os efeitos da crise sobre o setor. Ele considerou significativo como tendência, entretanto, o brusco recuo no resultado do setor em 12 meses, de quase um ponto porcentual de setembro para outubro - redução que não ocorria de um mês para o outro nesse indicador de longo prazo desde março de 2005.
O aumento da atividade industrial de 0,8% em relação a outubro do ano passado representa a menor variação apurada desde dezembro de 2006 e ocorreu apesar de um efeito calendário favorável, já que outubro deste ano apresentou um dia útil a mais do que igual mês de 2007. Ou seja, uma elevação maior seria o cenário natural em período de normalidade.
SETORES
A queda na produção industrial não atingiu todos os setores. Os bens de capital - máquinas e equipamentos pesados que abastecem a própria indústria - ainda prosseguiram imunes às turbulências um mês depois do agravamento da crise financeira internacional.
Os bens de consumo duráveis (automóveis e eletrodomésticos, principalmente), entretanto, sofreram o impacto, assim como os bens intermediários (siderurgia, química, minerais não metálicos).
¿O mês de outubro marca a entrada da indústria no novo cenário econômico mundial, que mostrou uma mudança brusca¿, disse Silvio Sales.
Ao longo de 2009, ocorreram outras quedas mensais na produção, mas em nenhuma delas ficou tão claro o efeito da crise financeira internacional na redução da atividade industrial.
A mudança brusca de tendência no desempenho da indústria veio acompanhada de uma forte desaceleração na fabricação de veículos automotores, setor que vinha puxando os resultados em 2008 e perdeu, em outubro, o posto de líder do crescimento. A produção desse segmento, que havia aumentado 20,2% em setembro ante igual mês do ano passado e acumulado um aumento de 17,6% de janeiro a setembro deste ano, registrou expansão de apenas 4,1% em outubro ante igual mês do ano passado.
As duas categorias que vinham puxando a produção industrial este ano mostraram desempenhos bem distintos em outubro. A produção de bens de capital registrou forte vigor, apesar dos efeitos da crise sobre a indústria em geral. Por outro lado, os bens de consumo duráveis registraram queda generalizada.
Segundo Sales, a produção de bens de capital não refletiu a crise porque o desempenho desse setor reflete decisões tomadas antes. ¿Essa categoria é menos sensível a efeitos imediatos de mudanças de cenário.¿
INCERTEZAS
Para Claudia Oshiro, da Tendências Consultoria, ¿de modo geral, o aumento das incertezas acerca do comportamento da demanda interna abalou a confiança do empresário e fez com que o ritmo de produção fosse mais fraco¿. Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os dados ¿refletem, em suma, o grande e em parte surpreendente efeito da crise externa sobre a economia brasileira¿.