Título: O Inca errou sobre toque retal
Autor: IwassoSimone
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2008, Vida &, p. A26

¿Teve paciente que desmarcou consulta que tinha marcada no dia e disse que não ia mais fazer exame de próstata, porque não precisava mais¿, conta o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, José Carlos de Almeida. Ele se refere à polêmica provocada por técnicos do Instituto Nacional de Câncer (Inca) na semana passada. Eles chegaram a afirmar que só deveria procurar o médico para fazer exames de dosagem de PSA e de toque retal pacientes que já apresentassem sintomas de câncer de próstata ou tivessem histórico familiar da doença. Para os outros homens, o entendimento que ficou após a notícia foi de que ele não seria mais necessário, contrariando as recomendações médicas tidas como consenso até então.

O caso provocou controvérsia que envolveu outros especialistas e sociedades médicas, que reagiram contestanto a informação e levando o instituto a se pronunciar para esclarecer o assunto. ¿O Inca errou. Houve equívoco de um técnico que se confundiu e transmitiu uma informação errada¿, afirma Luiz Borges, presidente do instituto.

¿Nossa recomendação é que todo homem acima dos 45 anos faça anualmente exames para detecção do câncer de próstata¿, reforça Borges.

Ele admite ter recebido, pela ouvidoria da instituição, centenas de reclamações e pedidos de esclarecimento.

Borges explica que a posição do instituto sobre o tema está definida em documento assinado em 2002 com a Sociedade Brasileira de Urologia. Nele, a indicação do exame anual, tanto de toque quanto da dosagem de PSA, é indicada a todos os homens como prevenção. ¿Desde então, nada mudou e nossa posição continua a mesma para os homens a favor do exame de rotina¿, diz.

¿Com as informações esclarecidas, é importante reforçar a necessidade de todo homem procurar seu médico e fazer o exame. Uma vez detectado precocemente, as chances de cura e tratamento são muito maiores¿, explica Almeida.

RASTREAMENTO

No entanto, o Inca e os especialistas na área são unânimes em dizer que, enquanto o exame é recomendado para todos os homens a partir dos 45 anos, ainda não há nenhuma grande pesquisa que comprove cientificamente a relação entre fazer um rastreamento do câncer de próstata na população e diminuir o índice de mortalidade masculina.

Ou seja, como política pública, convocar todos os homens a partir de uma certa idade a fazer o exame, levando em conta os custos envolvidos, não seria razoável, já que não há comprovações de que isso traga um ganho em expectativa de vida para a população masculina.

Aí está a polêmica e a confusão. ¿Não há ainda trabalhos conclusivos sérios que afirmem que rastrear toda a população, ou seja, de uma vez chamar todos os homens para fazerem o exame, tem influência positiva na redução da mortalidade¿, explica o urologista Gustavo Cardoso Guimarães, do Hospital do Câncer A.C. Camargo.

¿No entanto, analisando as estatísticas americanas, que são mais confiáveis, há aumento de diagnóstico e redução da mortalidade nos anos 1980 até agora¿, diz ele.

Os dados do próprio hospital, de 2000 a 2006, mostram que os médicos estão detectando o câncer cada vez mais precocemente e que o número de mortes provocadas pela doença tem caído. ¿Estamos operando mais homens mais jovens, diminuindo a mortalidade. Isso mostra que há vantagens em detectar o tumor e tratá-lo¿, afirma.

O hospital registrou 157 casos em 2000, dos quais 50 já estavam em estágio avançado - quando praticamente não há chances de cura. Em 2006, foram 256 novos casos, e apenas um quinto estava nessa fase avançada. A mortalidade passou de 16 casos, em 2000, para dois, em 2006.

¿A dúvida que existe é sobre os tumores que não evoluem. Provavelmente estamos tratando homens com tumores que não evoluiriam e que morreriam com o tumor, mas não do tumor¿, explica o urologista. ¿O problema é que ainda é difícil saber, uma vez diagnosticado, qual tipo de tumor o paciente tem.¿

Geralmente, o tumor afeta homens a partir dos 50 anos e tem uma evolução silenciosa e lenta na fase inicial. Muitos pacientes não apresentam nenhum sintoma ou, quando apresentam, são semelhantes ao crescimento benigno da próstata (dificuldade miccional, freqüência urinária aumentada durante o dia ou a noite). Na fase mais avançada, pode ocorrer dor óssea, sintomas urinários ou, quando mais grave, infecções generalizadas ou insuficiência renal. A estimativa de incidência do Inca é, em média, de cerca de 50 casos para cada 100 mil homens no País.