Título: 50 pessoas tiveram contato com infectado
Autor: Cimieri, Fabiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2008, Vida &, p. A19

As cerca de 50 pessoas que tiveram contato com o sul-africano Willian Charles Erasmus, de 53 anos, que morreu anteontem com febre hemorrágica provocada por um vírus ainda não identificado, na Casa de Saúde São José, na zona sul do Rio, mantêm suas atividades diárias normalmente. O único monitoramento que está sendo feito é o de febre, com o controle de temperatura duas vezes ao dia. Em nota, o Ministério da Saúde informou que ¿não é recomendada a realização de quarentena, pois o contágio acontece apenas após o aparecimento dos sintomas. O período de incubação do vírus varia de 7 a 16 dias¿.

Uma das hipóteses é que Erasmus tenha sido infectado por um vírus desconhecido da família dos arenavírus. Ele esteve internado na Clínica Morning-Side, em Johannesburgo, há cerca de 15 dias, para realizar cirurgia ortopédica, segundo o epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz, José Cerbino Neto. Ao Estado, a clínica confirmou ter recebido o paciente.

Cerbino descartou a possibilidade de epidemia. ¿Não há motivo para pânico.¿ Diferentemente da posição oficial, o infectologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Edimilson Migówski, avalia que há risco de transmissão antes do aparecimento dos sintomas, como ocorre com outras viroses, como a hepatite A e o rotavírus. Ele também cogitou a possibilidade de haver casos de pessoas infectadas e assintomáticas, que poderiam propagar a infecção. ¿Os arenavírus são pouco conhecidos no Brasil e nos Estados Unidos, ainda mais um tipo desconhecido dessa família. É uma situação bem delicada para quem teve contato direto com o sul-africano. Na minha visão, essas pessoas deveriam estar sendo mantidas em quarentena. Pode ser chato, mas é melhor ser um pouco exagerado diante do que não se conhece.¿

O virologista Paolo Zanotto, da USP, explica que as infecções por arenavírus são extremamente difíceis de ser tratadas e requerem maior prevenção dos médicos e enfermeiros. ¿É um vírus de nível três, mas poderia ser considerado no Brasil até mesmo de nível quatro, pois não existe vacina e ele não circula aqui¿, diz. Os vírus de nível quatro são considerados os mais letais. ¿É grave e bem mais perigoso para os profissionais que tiveram contato com ele.¿

No hospital de Johannesburgo foram registrados cinco casos de infecção pelo mesmo tipo desconhecido de arenavírus no período de 12 de setembro a 24 de outubro de 2008. Apenas uma enfermeira, a última a apresentar os sintomas, sobreviveu. Ela foi medicada com Ribavarina, medicamento usado para tratar a Febre de Lassa, outra infecção causada por arenavírus.

Os resultados preliminares dos exames feitos pela Fiocruz para diagnosticar a doença febril hemorrágica que causou a morte do sul-africano devem ser divulgados pelo ministério segunda-feira. Além do arenavírus, estão sendo investigadas as hipóteses de hantaviroses, hepatite e leptospirose. Malária, dengue e ebola já foram descartados.