Título: Investimentos de US$ 13 bi em aço estão ameaçados
Autor: Kattah, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2008, Economia, p. B3

Em dois meses e meio, o setor siderúrgico passou de um cenário mundial de escassez de oferta para o outro extremo, de excesso de aço e retração da demanda. Resultado inevitável: revisão e eventual suspensão de investimentos do setor. No Brasil, entraram automaticamente na geladeira projetos avaliados em US$ 13 bilhões, com planos de efetivação a partir de 2010, e que representariam aumento de capacidade de produção de aço em 16,5 milhões de toneladas. Tidos como certos até o início da crise, estes investimentos estão ameaçados, segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS).

¿Em função do que tivermos pela frente, há possibilidade de mexer em tudo. A questão é que 2009 virou um grande ponto de interrogação. Há um grau de preocupação das empresas em relação ao nível de desaceleração. Se estamos numa situação em que não há mercado, aumentar a produção para vender para quem?¿, indaga o vice-presidente executivo do IBS, Marco Polo de Mello Lopes. Hoje, disse, a grande preocupação do setor é preservar o que já tem.

Segundo Lopes, os investimentos no País estavam divididos em três grandes etapas: a primeira, de expansão do parque industrial em 18,9 milhões de toneladas/ano, orçada em US$ 39,9 bilhões, já foi iniciada, e já teve grande parte dos investimentos feitos. A segunda fase, de US$ 5,8 bilhões, referia-se a entrada de novas empresas no mercado, a partir de 2010 - neste caso está a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), em construção. A terceira, de US$ 13 bilhões, dos projetos em estudos, para ampliar em 16,5 milhões a produção de aço, que estão sendo reavaliados.

Diante da reversão de cenário, o projeto da Vale de participar da criação de uma rede de siderúrgicas no País tem enfrentado reveses que vão desde o adiamento da conclusão de usinas, como a CSA, à um reexame da viabilidade dos projetos. A Vale ainda não suspendeu oficialmente nenhum projeto em estudo, mas informou que ¿o cronograma dos projetos irá obedecer à realidade do mercado¿. A empresa havia divulgado estudos de parceria em novas siderúrgicas no Espírito Santo, Pará e Ceará, além da CSA.

No caso da usina de US$ 5 bilhões em Anchieta (ES), o projeto foi indeferido este mês, por avaliação de órgãos ambientais. O governo capixaba, alegando acúmulo de empreendimentos com impacto ambiental naquele município, sugeriu a transferência para o sul do Estado. Segundo fontes, foi a deixa que os empreendedores esperavam para adiar os planos.

Outro projeto em banho-maria é o da usina siderúrgica de Pecém, no Ceará. A Vale assinou em abril Memorando de Entendimento com a japonesa JFE Steel e a sul-coreana Dongkuk para a construção da unidade. O projeto inicial previa capacidade inicial de produção de 2,5 milhões de toneladas anuais de placas de aço. A CSA, com obras já iniciadas, teve a inauguração postergada para o final de 2009 pela Thyssen Krupp, que tem parceria com a Vale.

Mesmo as usinas já em operação vêm tomando medidas para evitar perdas: pelo menos quatro grandes siderúrgicas anunciaram nas últimas semanas antecipação de paradas para manutenção. A medida, periodicamente necessária na indústria de aço, suspende produção por, no mínimo, dois meses, em média. Usiminas, ArcelorMittal Tubarão (ex-CST), ArcelorMittal Aços Longos (ex-Belgo Mineira) e Gerdau/Açominas anunciaram que pretendem utilizar este período de ¿entressafra¿ de demanda para realizar a manutenção.

A Gerdau Açominas vai parar o alto-forno 1 até 15 de março de 2009, reduzindo a produção de ferro gusa da siderúrgica em 720 mil toneladas, o equivalente a 16% da sua produção anual. A Usiminas, por sua vez, antecipou para o próximo dia 5 a manutenção do alto-forno 2 de sua usina em Ipatinga (MG), prevista para junho. Com isso, deixarão de ser produzidas 300 mil toneladas de ferro gusa, ou 3% da produção anual.

Prevista para 2011, a manutenção do alto-forno 2 da Arcelor Mittal Tubarão será antecipada, mas a empresa não informou o período. A ArcelorMittal Aços Longos está concedendo férias coletivas parte de seus empregados.