Título: Cólera amplia drama no Zimbábue
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2008, Internacional, p. A15

Diante de uma epidemia de cólera que já infectou 12.546 pessoas, deixando pelo menos 560 mortos, o governo do Zimbábue decretou ontem estado de emergência e pediu ajuda à comunidade internacional para controlar a expansão da doença. A Organização Mundial da Saúde (OMS) qualificou a situação de ¿desastrosa¿ e disse ser necessária a adoção imediata de novos mecanismos de combate ao surto. ¿Nossos hospitais não funcionam, literalmente¿, admitiu o ministro da Saúde, David Parirenyatwa.

A ajuda da comunidade internacional ao Zimbábue tem sido restrita em função do impasse político que o país vive desde as eleições presidenciais de julho. Acusado de fraude eleitoral e abuso de poder, o presidente Robert Mugabe - no poder há 28 anos - recusa-se a negociar com a oposição, liderada por Morgan Tsvangirai. Enquanto isso, a população sofre com a hiperinflação, falta de alimentos e um quadro de caos social marcado por protestos e greves.

Segundo dados oficiais, a inflação anual é de 231.000.000% ao ano. Economistas independentes, porém, afirmam que a cifra pode chegar a um trilhão por cento. Ontem, o Banco Central lançou a nota de 100 milhões de dólares zimbabuanos.

Com salários atrasados, cerca de dez soldados iniciaram distúrbios ontem nas ruas da capital Harare e acabaram presos. Na quarta-feira, médicos e enfermeiras também realizaram manifestações por falta de pagamento.

Com o aumento do fluxo de refugiados zimbabuanos para países vizinhos, autoridades da África do Sul alertaram para a possibilidade de regionalização da epidemia de cólera. A OMS anunciou que enviará uma missão especial para auxiliar no combate à crise e a União Européia prometeu um auxílio de US$ 12 milhões.

O primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Gordon Brown, um dos mais eloqüentes críticos de Mugabe, reconheceu que a comunidade internacional deve intervir e evitar o aumento do caos humanitário. ¿O Estado falido de Mugabe não deseja ou não consegue proteger seu povo. Mas as diferenças do presidente do Zimbábue com a comunidade internacional não nos impedirão de agir¿, disse Brown.

Após reunir-se com o oposicionista Tsvangirai, o primeiro-ministro do Quênia, Raila Odinga, afirmou ontem que, diante da estagnação do processo político no Zimbábue, os ¿líderes africanos devem unir-se para afastar definitivamente Mugabe do poder¿.

COLAPSO DE UM PAÍS

Saúde: governo declarou emergência nacional por causa da epidemia de cólera. Todo o sistema de saúde está falido e depende de ajuda internacional

Política: fracasso do plano de divisão do poder entre o presidente Robert Mugabe e o líder opositor Morgan Tsvangirai mantém o país sob um impasse político

Economia: inflação é de 231.000.000% ao ano. Banco Central lançou nota de 100 milhões de dólares zimbabuanos

Insegurança: militares insatisfeito com a falta de pagamento de soldos atacaram agência bancária em Harare. Enfermeiras também organizaram protestos