Título: Réu no mensalão é preso com euros na cueca
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2008, Nacional, p. A8
O empresário Enivaldo Quadrado, réu por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha no processo do mensalão, foi preso pela Polícia Federal (PF) na madrugada de sábado quando desembarcava no Aeroporto Internacional de Cumbica com 361.445 euros em espécie - o equivalente a R$ 1,16 milhão.
Segundo a PF, as cédulas estavam distribuídas sob as meias, na cintura, no interior de uma pasta de mão e até nas cuecas de Quadrado. A prisão foi em flagrante. A PF autuou o empresário por crime de falsidade ideológica, uma vez que ele declarou à Receita portar quantia inferior.
Ontem à tarde, Quadrado foi transferido de uma cela da PF em Cumbica para o Cadeião de Pinheiros.
Ex-sócio da Bônus Banval Corretora de Valores, suposto canal para lavagem de dinheiro de Marcos Valério, apontado como operador do mensalão, o empresário foi apanhado ao retornar de uma viagem à Europa.
A PF constatou que ele passou alguns dias em Madri, onde hospedou-se no Novotel, no bairro Ponto de La Paz. Na volta, desceu em Lisboa e tomou um vôo da TAP. Em Cumbica, dois agentes federais o revistaram rotineiramente. São comuns abordagens desse tipo, sobretudo quando o passageiro oriundo de Portugal traz apenas bagagem de mão. Os federais costumam pegar traficantes de drogas nessas condições. Desta vez, porém, o homem que abordaram não tinha entorpecentes entre seus pertences.
Segundo a PF, ao se ver cercado, Quadrado admitiu: ¿Estou com dinheiro¿. Conferiram sua declaração ao Fisco, na qual ele havia omitido a quantia que transportava no corpo e na pasta. Quadrado preencheu, então, nova declaração atestando que trazia 300 mil euros, mas ainda desta vez o dado que apresentou não era correto.
Dois federais e dois auditores da Receita passaram duas horas conferindo o montante. Apuraram quase 361,5 mil euros com o homem do mensalão. Diante da contradição, Quadrado foi autuado e o dinheiro, apreendido.
Segundo nota da Receita Federal divulgada ontem, o empresário disse que os recursos tiveram origem num empréstimo contraído de um amigo residente em Portugal e seriam destinados à compra de automóveis para revenda no Brasil.
Quando depôs à PF no inquérito do mensalão, o empresário desmentiu Marcos Valério, que havia declarado investimentos de R$ 3 milhões em ouro e em dólar futuro por meio da Bônus Banval. Quadrado informou que os investimentos somaram R$ 6 milhões. Ele disse que pessoas autorizadas por Valério faziam resgate de aplicações. O empresário disse ter sido apresentado a Valério pelo ex-deputado José Janene (PP-PR), que também é réu no mensalão.
O advogado Antonio Sérgio Pitombo, que conduz a defesa de Quadrado, observou que só teve acesso ao auto de prisão em flagrante que ainda não dispõe de mais informações sobre o caso. Pitombo explicou que Quadrado não é mais sócio da Bônus Banval. A corretora, informou o advogado, foi liquidada depois do escândalo do mensalão.