Título: Falta cuidar do PIB de 2009
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2008, Notas & Informações, p. A3

A economia brasileira passou ao largo da crise mundial no terceiro trimestre, ganhando impulso, enquanto os países mais avançados entravam em recessão. Empurrada principalmente pelo investimento em máquinas, equipamentos e construções, mas também com uma forte participação do consumo privado, a produção interna cresceu 6,3% nos quatro trimestres encerrados em setembro. A medida anterior, até o período terminado em julho, havia acusado uma expansão de 6%. Um bom resultado geral está garantido para 2008, mesmo com o menor dinamismo já dado como certo nos três meses finais do ano. O desafio, agora, é garantir um desempenho razoável em 2009, num ambiente marcado pela estagnação do mundo rico e pela menor expansão da atividade na China e em vários outros grandes mercados emergentes.

Foi um crescimento ¿de qualidade¿, comentou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, referindo-se à ampliação do parque produtivo. O valor investido em capital fixo, isto é, em máquinas, equipamentos e instalações, no terceiro trimestre, foi 19,7% maior que o de um ano antes. O investimento correspondeu a 20,4% do Produto Interno Bruto (PIB), a maior participação trimestral desde o início da nova série, em 2000.

O ministro da Fazenda tem razão quanto a esse ponto: a elevação do investimento é uma excelente notícia, embora seu volume e sua composição ainda sejam insuficientes para garantir um firme crescimento econômico por um longo período.

O ministro exagerou, sem dúvida, ao atribuir boa parte da expansão econômica ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os investimentos em infra-estrutura avançam lentamente e os mais emperrados são aqueles dependentes da iniciativa do governo federal, pouco afeito à elaboração, à administração e à execução de projetos. O setor empresarial privado continua sendo muito mais competente para investir. Poucas estatais, com destaque para a Petrobrás, equiparam-se a esse grupo.

Além disso, a engorda do setor público inflou os números calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. No terceiro trimestre, o custo dos serviços prestados pela administração pública foi 6,4% maior que o de igual período de 2007. Só com muita imaginação e uma extraordinária boa vontade é possível enxergar um aumento correspondente na quantidade e na qualidade dos serviços prestados pelo governo aos cidadãos, nos níveis federal, estadual e municipal.

Essa conta, batizada como ¿consumo da administração pública¿, é baseada nos custos e certamente reflete muita ineficiência, muito emprego inútil e muito desperdício - e tudo isso é embrulhado num grande pacote como produção de serviços. No próximo ano esse item será inflado pelos aumentos salariais aprovados em 2008 para todo o setor público.

As perspectivas da economia brasileira para 2009 seriam bem melhores se o governo limitasse a expansão do ¿consumo da administração pública¿. Isso facilitaria a redução dos impostos, um dos principais obstáculos apontados pelos empresários à manutenção de um crescimento razoável durante a crise. Um governo menos perdulário também daria mais espaço para a redução dos juros básicos.

Com a produção menos onerada pela tributação excessiva, seria mais fácil manter um crescimento razoável com baixo risco de inflação e de problemas nas contas externas. Segundo o ministro da Fazenda, a economia brasileira pode crescer 6% ao ano com inflação sob controle. Essa afirmação é incorreta.

As pressões inflacionárias teriam sido muito maiores, nos últimos 12 meses, se o crescimento das importações não tivesse sido muito maior que o das exportações. Além disso, o dólar se manteve depreciado durante a maior parte desse tempo. Seu aumento recente só não produziu maior impacto porque caíram os preços dos alimentos e de outros produtos básicos.

O crescimento equilibrado, sem pressões inflacionárias e sem riscos maiores no setor externo, só será possível com mais investimentos e um aumento de exportações em ritmo suficiente para compensar a expansão das importações. O câmbio menos valorizado pode ajudar, mas nenhum país bem governado depende apenas do câmbio para ser competitivo.