Título: Sob pressão, Copom deve manter juro
Autor: Abreu, Beatriz; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2008, Economia, p. B6
O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne esta semana sob forte pressão para que o Banco Central ceda e reduza a taxa de juros, um cenário pouco provável. A tendência é de manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, embora setores do governo afirmem que não há risco iminente de pressão inflacionária. Com um cenário externo adverso, recessão no mundo e desaceleração da economia brasileira, a preocupação não está localizada, apenas, na Selic, mas na escalada do spread bancário, a elevada margem que os bancos cobram nos empréstimos.
Embora a discussão sobre o tamanho da Selic esteja intensa nos bastidores do governo, as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos juros elevados estão relacionadas, principalmente, às taxas praticadas no mercado. Lula está especialmente irritado com a escalada do spread bancário. Assim, quando ele ataca os juros está mirando o que considera a incompreensível posição dos bancos que, mesmo depois da devolução dos compulsórios recolhidos ao Banco Central, não garantem uma maior oferta de crédito a um custo mais baixo.
SALTO DO SPREAD
O spread médio cobrado pelos bancos estava em 26,2 pontos porcentuais em agosto e deu um salto. O dado preliminar de novembro mostra que a margem cobrada pelos bancos passou para 30,5 pontos nos empréstimos concedidos às pessoas físicas e jurídicas. Esse dado é o mais alto desde setembro de 2003, quando estava em 30,6 pontos.
As instituições financeiras argumentam que essa alta decorre do aumento de risco relacionado aos empréstimos. Por isso, com medo de um eventual calote, os bancos oneram o custo do dinheiro aos seus clientes.
A posição de maior cautela e a defesa da tese de que é possível esperar um pouco mais para definir se a Selic deve mesmo ser reduzida considera, também, o comportamento da taxa de câmbio. Existe o temor de que uma redução da Selic, ou mesmo uma simples sinalização de que a tendência é de queda dos juros básicos da economia, sirva de combustível para o aumento de preços. Pior, numa situação limite teria potencial para desencadear uma desvalorização mais acentuada do real com risco cambial ao País. Desde o agravamento da crise internacional, o real já se desvalorizou em 61,5%, considerando o patamar do dólar equivalente a R$ 1,56 e a cotação de R$ 2,52 registrada na semana passada.
A sinalização de que os juros vão baixar poderá, inclusive, ser a senha para a escalada do repasse da variação cambial para os preços. Em 2003, em pleno processo eleitoral e posse do presidente Lula, os mercados também foram contaminados por uma crise de confiança e a saída foi aumentar os juros. O BC, na época, elevou a taxa Selic de 17% ao ano para 26,5% em um momento de incertezas quanto à capacidade de pagamento do País.
A situação hoje tem outras peculiaridades. O temor não está relacionado diretamente a um ou outro país, mas às conseqüências da recessão já iniciada nos Estados Unidos, Europa e Japão. Para o Brasil, a perspectiva é de uma desaceleração da economia.
O cenário externo continua com peso forte nas avaliações do Copom, que inicia a discussão sobre os indicadores econômicos na terça e anuncia sua decisão no dia seguinte. Ao mesmo tempo, o IBGE divulga os dados agregados do PIB do terceiro trimestre, que terão pouca influência da fase mais aguda da crise financeira, iniciada na segunda semana de setembro.
Apesar da dispersão dos dados, os diretores terão uma base organizada dos mais diversos indicadores, inclusive projeções preliminares sobre o comportamento do comércio e da indústria no mês passado.
PRODUÇÃO INDUSTRIAL
Apesar de a produção industrial ter recuado em outubro, existe a suspeita de que em novembro a situação não foi tão ruim. Isso será checado pela diretoria do BC. As informações mais recentes ainda mostram uma economia correndo em ritmo intenso: a massa salarial cresce 8,5%, o crédito se recupera e as vendas estão em alta no comércio varejista.
Em relação ao emprego, os dados de outubro mostram desaceleração de 0,2%. No entanto, até novembro foi batido o recorde de 2,1 milhões de novos empregos formais. O movimento a ser observado é o de operários em férias coletivas e casos de demissões, como na indústria automobilística e nos setores siderúrgico e de mineração. O governo aposta que a liberação de crédito será o combustível para a preservação da atividade econômica e, em conseqüência, dos níveis de emprego.
O dado bom é a queda do IPCA, que ficou em 0,36% em novembro ante 0,45% em outubro, pela perspectiva de evidenciar uma tendência de desaceleração da inflação. Mas no ano, o índice oficial de inflação está em 5,61% e nos 12 meses encerrados em novembro acumula alta de 6,39%. Nos dois parâmetros, o índice está acima do centro da meta de 4,5% definida para 2009.