Título: Conferência lança fundo de adaptação ao aquecimento
Autor: Andrei Netto
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2008, Vida&, p. A26

Brasil veta mecanismo de captura e estocagem de carbono; UE aprova por unanimidade corte de 20% das emissões de gases-estufa até 2020

Andrei Netto

A 14ª Conferência do Clima das Nações Unidas encaminhou-se para o fim, no início da madrugada de ontem, em Poznan, Polônia, com a definição do Fundo de Adaptação, um dos mais importantes mecanismos de luta contra os efeitos das mudanças do clima. Além da definição do status jurídico do fundo, o esqueleto do futuro acordo que sucederá o Protocolo de Kyoto e a inclusão da Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) foram dois dos avanços dos 15 dias de negociações.

O acordo em torno do relatório, no final da noite de ontem, foi possível graças à remoção de três pontos.

O Brasil vetou a proposta de Captura e Estocagem de Carbono (CCS), defendida por nações árabes, Reino Unido - com aval da União Européia - e Noruega, alegando falta de consenso científico sobre o tema. Os países produtores de petróleo defendiam o uso imediato da tecnologia, que lhes permitiria receber créditos de emissões de carbono e, dessa forma, manter os níveis de poluição decorrentes da atividade. ¿É uma tecnologia cuja eficiência e segurança ainda não foram testados o suficiente. Não sabemos qual seria o risco de escape das bolhas de dióxido de carbono (CO2) estocadas, por exemplo", justificou Leandro Waldvogel, um dos negociadores brasileiros.

Dois outros empecilhos estavam relacionados ao Fundo de Adaptação, destinado a auxiliar países em desenvolvimento a se adequar às mudanças do clima. À noite, um mecanismo financeiro que permitiria a extensão dos recursos, incluindo verbas de países desenvolvidos, foi vetado. Entretanto, a gestão dos recursos já existentes foi destravada com a concessão da personalidade jurídica ao Conselho de Adaptação, órgão do Banco Mundial, que agora passa a ter autonomia para liberar dinheiro aos emergentes.

Os pontos de divergência foram negociados ao longo de todo o dia na Polônia, mas a perspectiva era de que a sessão plenária, reunindo os ministros, se estendesse ao longo da madrugada. Essa reunião homologaria o rascunho do relatório, que foi distribuído no final da noite à imprensa.

PACOTE EUROPEU

A UE aprovou ontem no início da tarde, em Bruxelas, o Pacote Energia-Clima, proposta que estipula metas de redução de emissões de gases-estufa. A decisão foi tomada por unanimidade pelos 27 chefes de Estado e de governo na reunião de Cúpula do Conselho Europeu. Com isso, foi homologado o objetivo 3x20 - 20% de corte de emissões, 20% de economia de energia e 20% de uso de energias renováveis em 2020, tudo em comparação com 1990.

A decisão só foi possível graças a concessões a países do Leste Europeu. Eles terão metas mais flexíveis e subsídios na aquisição de créditos de carbono. As maiores economias, como França, Reino Unido e Alemanha, comprometeram-se a compensar as emissões extras dos parceiros.

O acordo foi saudado pelo comissário europeu de Meio Ambiente, Stavros Dimas. ¿A UE propõe 20% ou até 30% de redução até 2020. Isso é o que esperamos de outros países desenvolvidos¿, afirmou, usando a seguir o jargão do presidente eleito dos EUA, Barack Obama, para se dirigir aos americanos: ¿Sim, nós podemos ter resultados em Copenhague (na 15ª Conferência do Clima).¿

MAIS ELOGIOS AO BRASIL

O ex-vice-presidente dos EUA e prêmio Nobel da Paz, Al Gore, disse ontem em Poznan que os países em desenvolvimento tornaram-se líderes e elogiou a China e o Brasil em seu discurso na Conferência. Numa alusão direta ao tema, o ex-vice presidente classificou de ¿impressionante¿ o plano proposto pelo governo brasileiro para enfrentar o desmatamento. O plano também já havia sido elogiado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na abertura das reuniões de alto nível.