Título: No Congresso, corrida pela sucessão de Lula já começou
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2008, Nacional, p. A8

Três maiores partidos travam briga interna para definir líderes, importantes articuladores para 2010

Eugênia Lopes

Às vésperas do recesso, não é apenas a disputa pela presidência da Câmara e do Senado que mobiliza os parlamentares. De olho nas eleições de 2010, PT, PSDB e PMDB travam disputas internas para escolher seus futuros líderes, que terão papel de destaque nas articulações da sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Assim como o comando das duas Casas do Legislativo, a maioria dos novos líderes será definida em fevereiro de 2009.

Um dos pré-candidatos do PSDB à Presidência, o governador José Serra não esconde seu interesse nas lideranças do partido no Congresso. Foi um pedido seu que levou o senador Arthur Virgílio (AM) a se manter na liderança do partido no Senado, cargo que ocupa desde fevereiro de 2003. Motivo: Serra não queria que o senador Tasso Jereissati (CE) assumisse o posto.

Para desistir, Tasso recebeu a promessa de que em 2009 terá o nome indicado pelo partido para presidir a poderosa Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Ele é mais afinado com o governador de Minas, Aécio Neves, outro pré-candidato tucano.

Se no Senado os ânimos ficaram apaziguados, o mesmo não ocorreu na Câmara. O líder José Aníbal (SP) ameaça alterar o estatuto do partido para ser reconduzido ao cargo em fevereiro. Aliados começaram a recolher assinaturas para reelegê-lo.

Paralelamente, os deputados Emanuel Fernandes (SP) e Paulo Renato (SP) lançaram suas candidaturas para a liderança, com o apoio velado de Serra. No início do ano, o empenho de Aécio foi decisivo para a vitória de Aníbal na eleição de líder. Na época, Serra saiu desgastado com a derrota de seu candidato, Arnaldo Madeira (SP).

A aliados, o governador de São Paulo confidenciou que acha o atual líder tucano ¿pouco confiável¿. E dá como exemplo o fato de ele ter assinado o pedido de urgência de votação para a emenda que aumenta os salários dos delegados de polícia, considerada ¿uma bomba fiscal¿, em especial São Paulo, com mais de 3 mil delegados. ¿Fui o último líder a assinar o pedido¿, alega Aníbal.

PETISTAS

Enquanto no Senado a escolha do futuro líder do PT foi tranqüila, com a indicação de Aloizio Mercadante (SP), a disputa interna na Câmara é acirrada. Apesar de haver quatro nomes na lista, os paulistas Cândido Vaccarezza e Paulo Teixeira são os que têm mais chances de ocupar a liderança do PT na Câmara.

Vaccarezza é da tendência Novos Rumos, ligada ao grupo da ex-ministra Marta Suplicy. Foi ele quem ajudou a articular a campanha da petista à Prefeitura de São Paulo. Paulo Teixeira, da Mensagem ao Partido, é ligado ao grupo do secretário-geral do PT, José Eduardo Martins Cardozo (SP), e do ministro da Justiça, Tarso Genro.

Ontem em São Paulo, Cardozo e Tarso discutiram os rumos do Mensagem ao Partido. O ministro falou em ¿vazio de referências¿ com relação à sucessão de Lula e disse apostar em uma ¿semeadura de novos líderes intermediários¿.

Quem for apoiado pela corrente Construindo um Novo Brasil, o antigo Campo Majoritário, será escolhido o líder na Câmara. Cerca de 40 do total de 80 deputados da sigla são dessa tendência. Tanto Vaccarezza quanto Teixeira estão confiantes de que têm a maioria dos votos dessa ala.

Um dos empecilhos para a eleição de Teixeira é o ex-ministro José Dirceu, que é dessa corrente e tem muita influência na máquina partidária. Dirceu não quer deixar com tanto poder pessoas ligadas a Tarso, seu desafeto público, que já tem a liderança do governo na Câmara, com Henrique Fontana (RS).

Ainda de olho nas articulações para 2010, o senador Renan Calheiros (AL) está decidido a voltar a liderar a bancada do PMDB no Senado. Seus aliados já começaram a recolher assinaturas para elegê-lo. O atual líder Valdir Raupp (RO) resiste a deixar o cargo. O Planalto estaria disposto a ajudar Renan a liderar a bancada peemedebista, em troca de seu apoio à candidatura de Tião Viana (PT-AC) à presidência do Senado. Compromisso que dificilmente será assumido por Renan.

Em um sinal de boa vontade, interlocutores de Lula já acenaram com a possibilidade de Raupp ir para a liderança do governo no Congresso ou no Senado. A princípio, o atual líder não aceitou as ofertas. Segundo aliados, Raupp calcula ter hoje o apoio certo de 11 do total de 20 senadores da bancada do PMDB, o que garantiria sua reeleição. Renan também contabiliza a maioria dos votos da bancada a seu favor.