Título: Adoro o Serra, mas vai ganhar a Dilma
Autor: Tosta, Wilson; Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2008, Nacional, p. A9

Peemedebista, que apoiou o tucano contra Lula em 2002, descarta ser vice e sugere Geddel para compor chapa com a ministra

Wilson Tosta e Alexandre Rodrigues

Cabo eleitoral assumido da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), revela, em entrevista ao Estado, que, na semana retrasada, avisou ao presidente Lula que descartou a idéia de ser vice numa possível chapa PT-PMDB. Ele quer um vice do Nordeste para Dilma e aponta o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Para Cabral, os defensores da aliança com o PT já têm maioria no PMDB para dar a vice a Dilma e diz que ela não correrá o risco de perder o partido para o PSDB se escolher Geddel, ex-aliado de Fernando Henrique Cardoso, considerado o vencedor das eleições municipais da Bahia, o quarto maior colégio eleitoral do Brasil.

Cabral, no entanto, cuida para não implodir as pontes que o ligam aos tucanos José Serra e Aécio Neves, bem mais antigas do que a fervorosa aliança com Lula. Ele renova sua admiração por Serra, a quem apoiou em 2002 contra Lula, mas justifica sua opção por Dilma na gratidão aos recursos que o governo federal tem dado ao Rio. ¿Adoro Serra, mas vai ganhar a Dilma.¿

Qual é o seu plano para 2010?

Candidato à reeleição.

Isso está certo?

Absolutamente certo.

O senhor não é candidato a vice-presidente, como se fala?

Não. Eu disse isso ao presidente aqui na quinta-feira (dia 4). Disse: presidente, sou candidato à reeleição. E ele concordou. Estamos numa fase de virada no Estado do Rio, de um processo lento, gradual, duro, difícil. Um processo em que estamos mudando muita coisa. Esse gerúndio é de perspectiva de médio e longo prazo.

O senhor acha que em 2010 terá resultados para apresentar?

Ah, vou. Os mesmos que me levaram a ir para essa campanha deste ano com Eduardo Paes (prefeito eleito do Rio pelo PMDB) sem medo de discutir o governo.

O sr. fala em Dilma, mas fala-se que uma parte do PMDB quer apoiar Serra. Como será isso?

O Serra é uma pessoa que eu já apoiei e de qum eu gosto. É um grande homem público e um bom administrador, mas o PMDB tem uma aliança com o PT muito forte e eu não tenho a menor dúvida de que apoiará a Dilma. Nós temos maioria assegurada para apoiar a Dilma.

Não vai rachar o partido?

Acho muito difícil. O governador Luiz Henrique (SC) está firme ao lado dessa aliança com o PT. O governador Requião (PR), eu, Paulo Hartung (ES), Eduardo Braga (AM), Eduardo Paes, que será o prefeito da cidade mais importante do PMDB no Brasil. Até o Geddel, que pode até ter problema (com o PT) na Bahia. Mas Dilma é Dilma, acabou. Acho inclusive que o vice tem de ser do Nordeste. Acho até que o Geddel seria um excelente nome para vice da Dilma. Estou lançando aqui, viu?

O senhor quer dar um vice do Nordeste para dar um caráter mais popular à ministra?

Não tem necessariamente essa coisa de que o nordestino é mais popular. Popular é popular. A Dilma tem a cara do Sul e Sudeste, como o Serra. Acho que o PMDB, muito forte no Norte e Nordeste, pode contribuir muito com a candidatura da Dilma.

O senhor indicou Geddel ao presidente Lula?

Falei com ele e com a Dilma. Falei para os dois.

Eles receberam bem o nome?

Muito bem mesmo. Posso contribuir muito para a campanha. Sabe por que eu sou Dilma? Primeiro por gratidão. A pior coisa na política é a ingratidão. E o Lula tem sido um presidente espetacular com o meu Estado. E a Dilma é a tradução desse apoio, pela eficiência dela. Essa é a segunda razão.

Dilma nunca disputou eleições.

O (Barack) Obama só disputou duas eleições e hoje é presidente. Lula também não tinha experiência administrativa e tem 80% de popularidade. E depois, quer cargo mais político do que a Casa Civil? Ela é a comandante, é quase uma primeira-ministra. Ela trata os outros ministros com comando, dado pelo presidente Lula.

Mas o senhor já foi tucano, apoiou Serra em 2002. Ele também não tem essas qualidades?

Tem. Que bom que nós temos a Dilma e o Serra. Eu adoro o Serra, mas vai ganhar a Dilma. Em 2002, fui o único no Rio a apoiar Serra. Acho que o Serra deveria continuar governador em São Paulo e a Dilma presidente da República.

O que afasta o senhor do Serra?

Não me afasta do Serra. Tenho uma relação com o Serra excepcional. Como tenho com o Aécio. O Aécio, na segunda-feira, fez um discurso todo encantador para mim, é meu amigo há 25 anos. E, na hora de me abraçar, falou: ¿Vê se a Dilma fala de você assim?¿

Agora no fim do ano, o presidente Lula tentou votar a reforma tributária. Por que o senhor, que é um aliado tão próximo, não o apoiou, já que a proposta trazia algumas coisas do interesse do Rio?

Porque há uma proposta do presidente e há um substitutivo do deputado Sandro Mabel. São coisas distintas, que têm de ser verdadeiramente estudadas. Sou favorável à reforma, pedi ao Joaquim Levy (secretário fluminense de Fazenda) para me fazer um estudo mais aprofundado. O presidente me falou na semana retrasada que tinha já uma avaliação de que não daria para este ano.

E a guerra fiscal?

A guerra fiscal, seguindo parâmetros como os da Lei de Responsabilidade Fiscal, que não deixa fazer gracinha com a receita, é excepcional.