Título: Copom discutiu corte de 0,25 nos juros, mas optou pela 'cautela'
Autor: Nogueira, Rui
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/12/2008, Economia, p. B4

Na ata do Comitê, economistas do BC explicam por que o mundo corta juros e o Brasil manteve a Selic em 13,75%.

Rui Nogueira, BRASÍLIA

Mesmo admitindo que o País enfrenta a ¿interrupção do ciclo de expansão industrial¿, a produção de bens de capital ¿perdeu dinamismo¿, a criação de empregos formais também desacelerou e a balança comercial ¿perdeu vigor¿, o Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada por não sentir segurança quanto à trajetória da inflação. A ata do Copom, divulgada ontem, mostra que o BC não aceitou se desviar da estratégia preventiva e não desistiu de trabalhar para que a inflação não estoure o teto da meta deste ano, 6,5% - o centro da meta é 4,5%, batalha já perdida.

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Depois de admitir que ¿a maioria¿ dos membros do Copom chegou a discutir o corte dos juros em 0,25 ponto porcentual, a ata mostra a opção pela ¿postura cautelosa¿ para manter a inflação ¿na trajetória das metas¿. Ao ficar claro que a manutenção da Selic foi uma decisão construída numa reunião de quatro horas, na semana passada, o Copom disse que prevaleceu a idéia de que ¿o ambiente macroeconômico continua cercado de grande incerteza¿.

Um dos argumentos desenvolvidos com mais detalhes na ata do Copom é uma comparação entre as ¿economias maduras¿ e as ¿economias emergentes¿, como a do Brasil. ¿Nas economias maduras, onde a ancoragem das expectativas da inflação é mais forte¿, a recessão ¿reduz rapidamente¿ as pressões inflacionárias, diz a ata. ¿Já nas economias emergentes, onde os efeitos secundários da elevação dos preços de matérias-primas sobre os preços ao consumidor e as pressões da demanda aquecida sobre a capacidade de expansão da oferta vinham sendo mais intensos, as pressões inflacionárias têm maior persistência.¿

A argumentação funciona como uma resposta a quem cobra queda na Selic, uma vez que ¿o mundo todo está cortando juros¿ - ontem, foi a vez da Turquia reduzir a taxa básica para 15% ao ano, fazendo um corte de 1,25 ponto. Os economistas do BC têm dito, em reuniões para avaliar as pressões políticas sobre o Copom, que ¿não dá para fazer política monetária por analogia¿.

O tom da preocupação com a inflação e com as especificadades da economia brasileira foi dado logo na abertura da ata com o retrato sobre o comportamento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência da meta da inflação do País. Ao se ¿deslocar¿ de 0,26% em setembro para 0,45% em outubro e 0,36% em novembro, o IPCA ¿alcançou 5,61% nos primeiros 11 meses de 2008 - a maior variação nesses meses desde 2004¿, alerta o Copom. ¿Em 12 meses, saiu de 6,25% em setembro para 6,41% em outubro e 6,39% em novembro.¿

Diante desse cenário do IPCA, o Copom é categórico ao dizer que ¿ainda não se consolidou o processo de reversão de tendência de afastamento da inflação em relação à trajetória de metas, que vem se verificando desde o final de 2007.¿ O BC admite, porém, que ¿o risco de uma deterioração ainda maior da dinâmica inflacionária (vem) se reduzindo¿.

O ritmo de forte crescimento no terceiro trimestre (6,8%) é usado também para mostrar que ainda pode haver um embalo dos efeitos do PIB alto no quarto trimestre. ¿O crescimento do consumo das famílias alcançou 7,3%, na mesma base de comparação (trimestre)¿.

Continua igualmente alto, diz a ata do Comitê de Política Monetária, ¿o volume de vendas do comércio varejista ampliado, que, de acordo com os dados dessazonalizados pelo IBGE, teve elevação de 4% em setembro, após recuo de 1,3% em agosto. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve crescimento de 15,9%, acumulando 13,8% no ano.¿

PONTOS PRINCIPAIS

IPCA: A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) se deslocou de 0,26% em setembro para 0,45% em outubro e 0,36% em novembro. Com isso, a inflação alcançou 5,61% de janeiro a novembro de 2008 - a maior variação desde 2004 - ante 3,69% em igual período de 2007. Em doze meses, a inflação saiu de 6,25% em setembro para 6,41% em outubro e 6,39% em novembro (4,19% em novembro de 2007)

Preços industriais: De fato, a despeito de arrefecimento em novembro, nesses onze meses, os preços industriais no atacado tiveram elevação de 13,80%, ante 3,39% em igual período de 2007

Economias: Nas economias maduras, onde a ancoragem das expectativas de inflação é mais forte e a atividade econômica vem se enfraquecendo consideravelmente, as pressões inflacionárias têm mostrado redução rápida. Já nas economias emergentes, onde os efeitos secundários da elevação dos preços de matérias-primas sobre os preços ao consumidor e as pressões da demanda aquecida sobre a capacidade de expansão da oferta vinham sendo mais intensos, as pressões inflacionárias têm maior persistência

Pressões inflacionárias: O Comitê de Política Monetária (Copom) avalia que a política monetária deve contribuir para a consolidação de um ambiente macroeconômico favorável em horizontes mais longos (...) O ritmo de expansão da demanda doméstica continuava bastante robusto até o terceiro trimestre, respondendo, ao menos parcialmente, pelas pressões inflacionárias, a despeito do forte crescimento das importações e do comportamento benigno do investimento

Política cautelosa: O Copom considera, também, que diminuiu a probabilidade de persistência de um descompasso entre o ritmo de expansão da demanda e da oferta agregadas que continue representando risco para a dinâmica inflacionária. Nessas circunstâncias, a política monetária deve manter postura cautelosa, visando assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas

Redução de 0,25%?: A maioria dos membros do Copom, tendo em vista o balanço de riscos para a atividade econômica e, conseqüentemente, para o cenário inflacionário em 2009, discutiu a opção de realizar, neste momento, uma redução de 25 p.b. na taxa básica de juros. Entretanto, prevaleceu o entendimento de que a trajetória prospectiva central da inflação ainda justificaria a manutenção da taxa básica

Veredicto final: Nesse contexto, (...) o Copom decidiu por unanimidade ainda manter a taxa Selic em 13,75% a.a., sem viés, neste momento