Título: Invasão por terra divide governo israelense
Autor: Gawendo, Michel
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2008, Internacional, p. A7

Israel está dividido. De um lado, o comando do Exército pressiona por uma invasão terrestre de larga escala na Faixa de Gaza, com o objetivo de pôr um ponto final no lançamento de foguetes do Hamas. De outro, a chancelaria defende a restrição da ofensiva aos bombardeios aéreos, limitando-se a mostrar ¿determinação¿ contra a ameaça palestina. A informação foi dada ao Estado por um funcionário do governo israelense, que pediu para não ser identificado.

¿O Exército entende que não há resposta possível para deter totalmente os foguetes, a não ser uma incursão com tanques e tropas capaz de ir atrás dos depósitos desse armamento. No entanto, a chancelaria não acredita em uma solução militar¿, contou o israelense.

Preparada ¿há anos¿, a operação lançada no sábado teria, assim, objetivos distintos para os dois setores em debate dentro do governo. Para os militares, uma invasão por terra seria capaz de solapar a capacidade de fogo do Hamas, reforçada durante os seis meses de trégua entre o grupo e Israel. Para os diplomatas, o objetivo seria manchar a imagem de poder que o grupo islâmico adquiriu e, ao mesmo tempo, reconquistar o prestígio perdido por Israel na guerra fracassada contra o Hezbollah, em 2006.

A fonte do governo, porém, não precisou qual das duas posições tem mais força dentro de Israel. A tentativa de destruir o Hamas ou mesmo uma reocupação da Faixa de Gaza, de onde Israel se retirou em 2005, estão ¿completamente¿ fora dos planos, garantiu. O motivo é ¿o custo humano nos dois lados¿.

Dessa vez, o processo decisório da ofensiva teria sido muito mais calculado e debatido do que contra o Hezbollah, em 2006. ¿Agora, precisávamos dar uma resposta determinada contra o Hamas, a situação era insustentável e havia muita pressão interna para agir¿, afirmou a fonte.

Segundo o israelense, os bombardeios já teriam destruído entre três e quatro grandes depósitos de foguetes do Hamas espalhados por Gaza. ¿Mas esses abrigos - muitos deles em regiões densamente povoadas - não podem ser totalmente eliminados pelo ar¿, completou.

Por isso, caso o objetivo da ofensiva tornar-se de fato ¿zerar¿ os arsenais de foguetes que ameaçam seu território, Israel terá de entrar por terra.