Título: Obama vai cortar US$ 300 bilhões em impostos
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2009, Economia, p. B1

O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, espera que até a primeira semana de fevereiro, no máximo, a maior parte da tramitação no Congresso do megapacote de estímulo econômico já tenha sido realizada. O programa inclui cortes de impostos de US$ 300 bilhões - ou 40% do valor total de US$ 775 bilhões - para famílias e empresas, além de uma série de gastos que vão de suporte a governos estaduais a investimentos em infraestrutura. Um dos principais objetivos do plano é o de criar 3 milhões de empregos, para compensar a perda de 2 milhões de postos de trabalho no ano passado.

Obama, que se encontrou ontem com a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, deixou claro a gravidade da situação da economia americana, em entrevista à imprensa junto com sua equipe econômica: ¿Estamos num ponto muito difícil, a economia está mal e a situação está piorando.¿ Ele também usou as expressões ¿muito doente¿ e ¿muito danificada¿ para se referir à economia do país.

O horizonte de tempo para a aprovação do pacote mencionado por Obama, na mesma entrevista (realizada após o encontro no Congresso), contraria as declarações de Nancy Pelosi, de que o pacote já estaria aprovado para o presidente eleito assinar quando tomar posse em 20 de janeiro. Obama admitiu que a aprovação do programa de estímulo ¿vai levar algum tempo, mesmo com uma tramitação rápida¿. Segundo o presidente eleito, ¿nós antecipamos que no final de janeiro ou na primeira semana de fevereiro tenhamos o grosso (da aprovação) realizado¿.

Mesmo este cronograma anunciado ontem por Obama, porém, é visto com preocupação por alguns analistas. ¿A partir do momento em que ele tomar posse, qualquer demora na aprovação do pacote já vai começar a pesar negativamente¿, disse o economista Thomas Trebat, diretor-executivo do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Colúmbia e ex-executivo do Citibank.

O programa de alívio de impostos prevê crédito tributários de US$ 500 por pessoa ou US$ 1.000 por família. Diferentemente dos abatimentos realizados no governo Bush, em que cheques foram enviados depois que os impostos foram pagos, os de Obama devem ser uma redução do imposto retido na fonte, com a intenção de fazer o ganho chegar mais rápido ao bolso de quase todos os trabalhadores. Essa parte do pacote está estimada em US$ 150 bilhões.

No caso das empresas, uma parcela de US$ 100 bilhões será injetada ao se permitir uma antecipação mais ampla de créditos tributários relativos a prejuízos em 2008. Há também mais US$ 50 bilhões de subsídio fiscal para contratação de novos funcionários, cancelamento de planos de demissão e investimento em novos equipamentos.

Além dos cortes de impostos, suporte aos Estados e investimentos em infraestrutura - em estradas, pontes, energia e instalações militares -, o programa de estímulo fiscal inclui gastos na área social e em itens como banda larga nas escolas e informatização da saúde. Há expectativa de que o valor inicial, de US$ 775 bilhões, seja ampliado na tramitação no Congresso, principalmente por inclusão de outros gastos por parte de parlamentares democratas.

A preocupação com o tempo para aprovação do pacote provém da tradicional resistência de uma corrente do Congresso americano ao aumento dos gastos públicos. Embora dessa vez este movimento parta principalmente do Partido Republicano, há também parlamentares democratas com o mesmo tipo de preocupação.

Obama mostrou estar alerta a essa questão e disse ontem que discutiu com a sua equipe econômica ¿como vamos fazer para restaurar a responsabilidade fiscal, de forma que, quando a economia se recuperar, nosso déficit possa começar a ser reduzido¿.

Ele prometeu também máxima transparência no pacote de gastos, com um site detalhado na internet para que todo cidadão americano possa acompanhar. ¿O povo americano tem o direito de saber como cada ¿dime¿ (moeda de dez cents) é gasto... de tal forma que todo mundo entenda o que está sendo feito para combater a crise¿, afirmou o presidente eleito.