Título: Israel ocupa e divide Faixa de Gaza
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2009, Internacional, p. A8

Soldados israelenses isolam parte do território e combatem militantes do Hamas frente a frente; mortos passam de 500

Gustavo Chacra, Sderot, Israel

O Exército de Israel dividiu a Faixa de Gaza em duas partes e cercou a principal cidade do território no nono dia de uma ofensiva contra o território que já deixou mais de 500 palestinos mortos, entre eles 87 crianças, e mais de 2 mil feridos. Um soldado israelense morreu ontem no segundo dia da ofensiva por terra, somando-se às outras quatro vítimas israelenses desde o início dos combates.

Em uma nova fase do conflito, após ataques aéreos, terrestres e marítimos de fora da Faixa da Gaza, soldados israelenses e militantes do Hamas estão combatendo frente a frente no que pode elevar o número de baixas dos dois lados, especialmente no de Israel.

A pressão diplomática para um cessar-fogo deve crescer ainda mais nos próximos dias, com protestos ao redor do mundo. Na noite de ontem, o Hamas anunciou que aceitou um convite do Egito para enviar uma delegação ao país para discutir a crise.

Em Israel, caso aumente o total de vítimas israelenses, analistas preveem que a opinião pública, atualmente a favor da guerra, possa começar a se opor, assim como ocorreu na guerra de 2006 no Líbano contra o grupo xiita Hezbollah.

Israel nega que queira reocupar Gaza, de onde se retirou em meados de 2005, apesar de manter o controle aéreo, marítimo e fronteiriço do território.

O objetivo declarado dos israelenses é eliminar a capacidade do Hamas de lançar foguetes contra o sul de Israel. Mas, apesar da ofensiva, dezenas de foguetes do grupo palestino atingiram ontem cidades israelenses como Ashkelon e Sderot, sem deixar vítimas.

Os israelenses querem principalmente um cessar-fogo diferente do status quo anterior, com garantias de maior segurança na fronteira da Faixa de Gaza com o Egito, onde o Hamas construiu túneis por onde se rearma.

¿Não pretendemos ocupar Gaza, tampouco acabar com o Hamas. Queremos acabar com o terror. E o Hamas precisa de uma lição. Acho que eles entenderam isso¿, disse o presidente de Israel, Shimon Peres.

Nos ataques de ontem, o Exército de Israel matou 42 palestinos, a maior parte civil. Uma mãe e quatro filhos estão entre os mortos. O ataque mais grave foi contra uma área comercial de Gaza.

DIVISÃO

O território palestino foi dividido ontem ao meio pelas forças israelenses que se posicionaram ao redor do antigo assentamento de Netzarim, com tanques e blindados cercando a cidade de Gaza, que ficou praticamente isolada do sul do território.

Desta forma, os militantes do Hamas teriam dificuldade para se rearmar e lançar foguetes a partir do norte de Gaza contra o território israelense.

As operações terrestres de Israel são acompanhadas por suporte aéreo de helicópteros e aviões. Apesar de os soldados israelenses praticamente não saírem dos tanques e blindados, 40 foram feridos ontem. O Hamas tem tentado se defender com morteiros e minas terrestres. O soldado israelense que foi morto combatia no campo de refugiados de Jabaliya.

SDEROT

Na cidade israelense de Sderot, pessoas saíram às ruas enfeitadas com bandeiras de Israel. Não parecia que a cidade é uma das mais atingidas pelos foguetes do Hamas. Muitos deixaram seus refúgios após dias. Um casal de soldados conversava de mãos de dadas. Lojas e restaurantes estavam abertos. Moradores de um kibutz próximo disseram que tudo seguia normalmente, mas à noite se recolhiam em abrigos.

A chancelaria israelense oferece um tour pelas áreas atingidas. Mas quem circula de forma independente tem dificuldades para ver sinais da destruição causada pelo Hamas. Sderot parece estar intacta.

O baixo número de vítimas, segundo disse ao Estado nesta semana o ministro de Assuntos Sociais de Israel, Isaac Herzog, não se deve à falta de tentativa do Hamas de atacar Israel, já que foguetes ainda atingem diariamente o território israelense. A diferença, diz ele, é que Israel construiu abrigos que protegem os moradores.

No campo diplomático, os EUA bloquearam no sábado à noite uma resolução no Conselho de Segurança da ONU que pedia um cessar-fogo imediato. A União Europeia e a Rússia estão enviando missões ao Oriente Médio. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, inicia amanhã uma ofensiva diplomática à parte na região (mais informações na pág. 10).

A ofensiva de Israel contra o Hamas começou no dia 27. Os israelenses afirmam que a ação militar foi uma resposta à violação do cessar-fogo por parte do grupo radical palestino. O Hamas e a Autoridade Palestina dizem que Israel desrespeitou a trégua antes ao matar seis militantes do grupo em novembro e ao impor um bloqueio que impedia a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.