Título: Viana reage a jogo do PMDB e acusa Múcio de desleal
Autor: Scinocca, Ana Paula; Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2009, Nacional, p. A8

Para petista, ministro insiste em `posições dúbias¿ sobre sucessão no Senado

Ana Paula Scinocca e Vera Rosa

Irritado com a fritura do PMDB e com o que chamou de ¿jogo duplo¿ no Planalto, o candidato à presidência do Senado, Tião Viana (PT-AC), fez ontem duros ataques ao ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. ¿A lealdade dele não atravessa a Praça dos Três Poderes¿, criticou Viana. ¿Ele tem insistido em posições dúbias, tem feito jogo duplo.¿

O desabafo de Viana foi feito um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser avisado de que o PMDB vai insistir na candidatura de José Sarney (AP) ao comando do Senado e quer que o petista retire o nome do páreo. Articulador político do governo, Múcio tenta jogar água na fervura da disputa entre o PT e o PMDB e ficou contrariado com as afirmações de Viana. À tarde, inconformado com a estocada, procurou Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula, para reclamar da ¿deselegância¿ petista.

¿A declaração do senador Tião Viana é de quem não me conhece¿, disse Múcio. ¿Trabalho por ele dia e noite, por orientação do presidente da República, e todos que me conhecem sabe que sou homem de uma palavra só.¿ Coube a Carvalho intervir para pôr panos quentes na briga: telefonou para Viana e pediu a ele que mantivesse a calma e não criticasse mais o ministro. ¿Assumi esse compromisso e não vou mais reclamar. Também sou um homem de palavra¿, afirmou o senador.

O reforço do movimento pró-Sarney provocou reação da cúpula do PT e levou o presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), a fazer a defesa pública da candidatura de Viana. Preocupado com o desfecho do imbróglio, Berzoini disse que a eleição do petista é importante para garantir o equilíbrio de forças da base aliada no Congresso.

Ao lembrar que o PT apoia Michel Temer (PMDB-SP) para o comando da Câmara, Berzoini cobrou ¿bom senso¿ dos aliados e respeito ao acordo firmado no ano passado, que prevê o aval dos peemedebistas a Viana.

Tanto o governo como a direção do PT temem que o lançamento da candidatura de Sarney ao Senado atropele o acordo e desarrume a Câmara. Motivo: se os aliados perceberem que o PMDB tende a ficar com o comando das duas Casas, Temer corre o risco de não ser eleito.

¿É mais do que razoável, portanto, que haja a contrapartida do apoio do PMDB à candidatura de Tião Viana à Presidência do Senado. Não se trata de precondição para mantermos o apoio a Michel Temer na Câmara, mas de uma questão de bom senso¿, insistiu Berzoini.

A tentativa do PMDB de ¿rifar¿ Viana é comandada pela ala de Sarney e do ex-presidente do Senado Renan Calheiros (AL). O argumento do grupo é de que só Sarney, ungido como nome de consenso, pode evitar o racha na base de sustentação do governo no Congresso.