Título: Até Marisa ajuda a preparar toque feminino no Planalto
Autor: Rosa, Vera; Gobetti, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2009, Nacional, p. A4

Primeira-dama preside hoje painel sobre violência sexual contra menores no encontro de Brasília

Leonencio Nossa

Disposto a aumentar a presença feminina no governo e pavimentar a campanha de 2010, o Planalto recrutou até a sempre reservada primeira-dama Marisa Letícia. Hoje ela preside - o que não significa que vá discursar - um painel sobre violência sexual contra crianças e adolescentes no Encontro Nacional de Novos Prefeitos e Prefeitas, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.

Será a terceira vez em seis anos de governo que Marisa mostrará posição sobre um tema de relevância social. Em 2005, ela fez um gesto com os dedos para dizer que era a favor da proibição de armas. No ano passado, participou do 3º Congresso Mundial contra a Exploração de Crianças e Adolescentes, emprestando a imagem à causa em defesa dos menores.

Antes, o combate à exploração sexual de crianças nunca esteve na agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em novembro de 2008, Lula causou constrangimento em assessores ao chamar de "companheiro" o então prefeito de Coari, Adail Pinheiro, indiciado por abuso sexual de crianças pela Polícia Federal. Numa viagem a Coari, uma das cidades com os mais elevados índices de exploração de crianças e adolescentes do Amazonas, Lula não seguiu orientações de assessores e fez questão de posar ao lado de Pinheiro.

Em 2008, o governo federal repassou R$ 65 milhões para os programas que tratam exclusivamente da questão da exploração sexual infantil e juvenil, segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). "É um número inexpressivo", avalia a socióloga Graça Gadelha, uma das mais respeitadas especialistas em enfrentamento a abuso e violência sexual contra crianças e adolescentes.

Graça pondera que houve um "grande esforço" do governo Lula em pautar o tema. "Agora, na minha avaliação, somos muito mobilizadores e articuladores, mas somos pouco efetivos na implementação de políticas públicas que exigem respostas rápidas, como a exploração sexual de crianças e adolescentes", afirma. "O Brasil tem planos, mas não tem cultura de poder assegurar o cumprimento de metas."

Ela observa que "poucas" metas do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Infantil foram cumpridas nos últimos anos. Graça avalia que é preciso focar mais na questão. A especialista explica que um dos programas mais divulgados pelo governo, o programa dos Centros de Referência, atende não apenas vítimas de exploração sexual, mas crianças e adolescentes que enfrentam outros problemas. "É preciso fazer uma leitura crítica desses números."