Título: As empresas estão vendo algo muito ruim à frente
Autor: Monteiro, Tânia; Goy, Leonardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2009, Economia, p. B3

O corte de 654.946 postos de trabalho em dezembro no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho indica que ¿as empresas estão vendo algo muito ruim pela frente¿, disse ao Estado o economista-chefe da Gávea Investimentos, Edward Amadeo. Ministro do Trabalho no governo Fernando Henrique durante as crises cambiais dos anos 90, quando divulgou que a legislação já permitia a redução de jornada de trabalho e de salários para evitar demissões, ele defende a medida agora. Mesmo que seja adotada, porém, Amadeo não acredita que evitará.

Como o senhor interpreta esse dado do Caged de redução de quase 655 mil empregos em dezembro, com saldo positivo?

A resposta (à crise) veio muito rápida e muito forte. Acho que as empresas estão vendo algo muito ruim pela frente porque, normalmente, elas esperam ter um pouco mais de clareza antes de demitir. Há um custo não só de indenização de desligamento, mas de investimento já feito no trabalhador em treinamento, aclimatação, cultura... Até ele chegar um nível de produtividade elevado, leva um tempo. Justamente por esse custo, esperava que o processo fosse mais gradual e me surpreendi com um número tão forte.

O senhor defende flexibilizar a relação de trabalho?

É preciso mexer na legislação existente? Estamos passando por processo de recessão global muito profundo e a essa altura falar em mudar a legislação me parece politicamente inviável. É preciso usar os instrumentos que estão disponíveis e são suficientes agora.

Quais?

Basicamente, banco de horas, redução da jornada e dos salários, suspensão temporária dos contratos de trabalho. Foram os instrumentos deixados pelo governo Fernando Henrique em 1998 e 1999, quando a gente estava em uma situação como essa.

Isso resolve?

Não dá para achar que se vai evitar que o mercado de trabalho sofra, o que se pode fazer é atenuar os efeitos da crise. O melhor a fazer é usar esses mecanismos em vez de escolher entre os que vão ter renda zero, que vão ficar desempregados, e os que vão ter renda positiva. E aí todo mundo perde um pouco, mas preserva o emprego.

É possível que todo mundo preserve o emprego?

Não, dificilmente. Acho que vamos ter aumento de desemprego.