Título: Senador quer tesoureiro de seu partido em agência reguladora
Autor: Otta, Lu Aiko; Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2009, Nacional, p. A10

Argello trabalha para emplacar na ANTT o amigo Ivo Borges, que admite não ter experiência alguma em transportes

Lu Aiko Otta e Rosa Costa

Estrela em ascensão na base aliada do governo, o senador Gim Argello (DF), líder do PTB, está prestes a concretizar um feito reservado a poucos políticos: nomear um diretor de agência reguladora. Ivo Borges de Lima, seu principal assessor há uma década, é cotado para substituir Noboru Ofugi na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O mandato de Ofugi termina no dia 18.

Borges é filiado ao PTB e ocupa o cargo de tesoureiro do escritório regional do partido. "Mas se eu for nomeado terei de me desfiliar."

Nos bastidores do governo, sabe-se desde o início deste ano que a diretoria da ANTT seria indicada por Argello. Nada mau para alguém que chegou ao Senado sem ter recebido um voto sequer. Ele é suplente de Joaquim Roriz (PMDB-DF), que renunciou ao cargo em 2007 para não ser cassado pela acusação de ter se beneficiado de um suposto esquema de corrupção no Banco Regional de Brasília (BRB). Argello foi apontado como suspeito de grilagem de terras no Distrito Federal e de envolvimento em crimes identificados na Operação Aquarela, que levaram à renúncia de Roriz. O senador não retornou a ligação do Estado. Ele refutou todas as acusações nas outras vezes em que falou das denúncias.

Criadas no governo Fernando Henrique para garantir a estabilidade regulatória nos serviços concedidos pelo governo federal, como telefonia, energia e transportes, as agências reguladoras perderam poder no governo Lula e têm servido para distribuir quinhões de poder a políticos aliados. O senador José Sarney (PMDB-AP), por exemplo, nomeou no ano passado Emília Ribeiro, uma assessora de seu gabinete, para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Ivo Borges não tem experiência nenhuma na área de transportes, segundo admitiu ao Estado. "Mas tenho 50 anos de serviço público." Em sua longa carreira, ele foi presidente do conselho de administração da antiga Telesp (a estatal de telefonia de São Paulo) e da Companhia Telefônica da Borda do Campo (CTBC), no governo de Itamar Franco (1992-1994). Integrou também os conselhos de administração dos Correios e Telégrafos e da Radiobrás. Foi ainda secretário de Trabalho do Distrito Federal no governo de Maria de Lurdes Abadia (2006).

O assessor não sabe ainda se será mesmo indicado para a ANTT. Disse que foi sondado a respeito pelo senador, mas a conversa não foi conclusiva. Seu nome, porém, já circula até pelo setor privado. Se a indicação se concretizar, Borges será submetido a uma sabatina no Senado.

CABO ELEITORAL

Argello virou cabo eleitoral da candidatura de Sarney à presidência da Casa e ganhou a pecha de inconveniente por parte de alguns colegas. Uma de suas estratégias é sempre estar próximo a Renan Calheiros (PMDB-AL), até mesmo em almoços e jantares fora do Senado. Tornou-se uma "sombra" do peemedebista. Até mudou para a torre do Senado onde estão, entre outros, os gabinete de Sarney, Renan e Fernando Collor (PTB-AL). Seu gabinete fica no 14º andar, embaixo do de Renan.