Título: Petista se defende das críticas do MST
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2009, Nacional, p. A6

Em encontro no fórum, Lula diz ter feito maioria de assentamentos do País

Roldão Arruda

No encontro que manteve ontem com o Conselho Internacional do Fórum Social Mundial, em Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou, mesmo sem ter sido solicitado a fazê-lo, uma série de números sobre a reforma agrária no País. Tentou demonstrar que ela avança e, de cada 100 assentamentos rurais realizados em toda a história brasileira, 59 ocorreram em seu governo.

Lula procurou assim responder às críticas do Movimento dos Sem-Terra (MST), da organização Internacional Via Campesina e de militantes do PSTU e do PSOL que no dia anterior haviam realizado uma marcha pelas ruas de Belém pedindo "reforma agrária já".

João Pedro Stédile, membro da coordenação nacional do MST e um dos líderes mais influentes dos movimentos sociais da América Latina, tem dito e repetido que o projeto de reforma massiva que Lula prometia no início de seu governo até hoje não decolou.

O fato de Lula não ter não ter sido convidado pelo MST e a Via Campesina para o encontro do dia anterior, que reuniu os presidentes Hugo Chávez, Fernando Lugo, Evo Morales e Rafael Correa, também foi visto como uma crítica à questão da reforma agrária em seu governo.

O MST não admitiu que foi uma descortesia. Segundo seus porta-vozes, o encontro destinava-se a fortalecer a Alba - organização idealizada por Chávez, da qual o Brasil não faz parte, nem mostra interesse em fazê-lo. Também se comenta que, mesmo convidado, Lula não iria, com o temor de vaias.

O presidente rebateu ontem as críticas. Disse aos conselheiros do fórum que já implantou 3.089 projetos de assentamentos, com um total de 519.111 famílias, em área de 43 milhões de hectares - dez vezes o tamanho da Holanda. O MST contesta esses números, dizendo que, a exemplo de governos anteriores, Lula põe na mesma conta as regularizações fundiárias, de posseiros, e reassentamentos.

Ainda durante o encontro de ontem, o presidente foi indagado sobre o desmatamento na Amazônia. Respondeu que o controle da derrubada da floresta passa pela regularização fundiária, que será prioridade. Contou que está sendo montado um grupo de trabalho, sob a coordenação do ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, que nos próximos três deverá regularizar a situação fundiária das pequenas propriedades (em torno de 400 hectares) na Amazônia. Dos 6,6 milhões de pessoas que vivem na região, estima-se que 90% estão em pequenas áreas.

Cassel, que acompanhou o presidente na reunião, disse ao Estado que a regularização será feita em parceria com os governos estaduais. "As vantagens desse processo são claras: em primeiro lugar ficamos sabendo quem está naquela área. Quando houver desmatamento irregular, teremos a quem responsabilizar. Além disso, passam a existir condições para o fornecimento de crédito, financiamento. As pessoas saem da ilegalidade, tornando mais fácil o desenvolvimento de programas de exploração sustentável da floresta."

O repórter viajou a convite da Funai