Título: PMDB tenta dupla vitória para se cacifar ainda mais rumo a 2010
Autor: Samarco, Christiane; Moraes, Marcelo de
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2009, Nacional, p. A4

Senado e Câmara elegem amanhã novos presidentes, com possibilidade de vitória de Temer e Sarney

Christiane Samarco e Marcelo de Moraes, BRASÍLIA

A Câmara e o Senado elegem amanhã os seus novos presidentes e o PMDB aproveita a troca de comando para, mais do que nunca, tentar se alçar à condição de noiva mais cobiçada pelo PT e PSDB para a eleição presidencial de 2010. A meta é assegurar o comando simultâneo das duas Casas, com as vitórias do deputado Michel Temer (SP) e do senador José Sarney (AP).

Os eleitos terão o controle da pauta de votações e influência política sobre as discussões do Congresso no próximo ano, quando estará em curso o processo de sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Se a sucessão interna no Legislativo pode consagrar a recuperação do PMDB como legenda, fortalecida pela eleição de oito governadores em 2006 e por fazer o maior número de prefeitos em 2008, ao mesmo tempo expõe as suas eternas divergências internas, minando a candidatura própria à Presidência.

A candidatura Temer é apoiada pelos partidos de oposição, como PSDB e DEM. Mas também atrai o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra da Casa Civil, a presidenciável Dilma Rousseff, embora desagrade ao PT, que preferia permanecer com o posto.

A candidatura Sarney é vista com simpatia pelo Planalto, mas também enfrenta a rejeição do PT, que lançou o senador Tião Viana (AC), com o apoio da bancada do PSDB. Assim, criou-se a inusitada situação de PSDB e PT alinhados na disputa.

Os aliados de Temer também torcem o nariz para a candidatura de Sarney porque acham que ela pode tirar votos do PMDB na Câmara, já que alguns parlamentares não gostam da possibilidade de o partido concentrar o comando do Congresso.

As eventuais vitórias simultâneas de Sarney e Temer representarão um momento especial para o partido. Se esses resultados se confirmarem, o PMDB garantirá uma hegemonia que não tinha desde o biênio 1991-1993. À época, presidiu a Câmara com Ibsen Pinheiro (RS) e o Senado com Mauro Benevides (CE).

TABULEIRO

A eleição de Temer e Sarney também move mais pedras no tabuleiro de negociações promovidas por governo e oposição para tentar atrair a preferência do PMDB para 2010 ou pelo menos sua neutralidade. Nos últimos anos, o partido e seus principais líderes tiveram comportamentos absolutamente variados, compondo ora com governistas, ora com oposicionistas.

Tradicionalmente, a sigla se comporta como uma federação de líderes regionais e é isso que o torna tão interessante politicamente para os candidatos à Presidência. Fragmentado, o PMDB não consegue reunir sua força política em torno de um candidato próprio, sendo sempre um aliado perfeito para outro partido. Com muitos governadores e prefeitos, têm uma capilaridade invejável e dispõe de palanques importantes em todos os Estados e capitais.

"Essa é a primeira vez que o PMDB por inteiro compreende que não tem candidato à Presidência e não adianta inventar, que o PMDB é um aliado e eleitor estratégico e confortável para o governo para 2010 porque já faz parte da aliança com Lula", diz o ex-governador do Rio e vice-presidente da Caixa Econômica Federal Moreira Franco. Ele apoia Dilma, mas tem ótimas relações com a oposição.

Mesmo com seus deputados tendo simpatia pela candidatura de Ciro Nogueira (PP-PI), o DEM alinhou-se a Temer na Câmara e apoiou Sarney no Senado. "O partido está pensando num objetivo maior, que passa pela próxima sucessão presidencial. E é óbvio que desejamos que o PMDB faça parte da aliança com PSDB e DEM", afirma o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ).

Do lado do governo, a ministra Dilma ajudou pessoalmente nas articulações em favor de Sarney e Temer. Lula pediu também aos governadores petistas do Nordeste que ajudassem a virar votos de deputados .

"Todas decisões dessa sucessão terão consequências nas articulações para 2010 e no day after para o governo", prevê Moreira Franco.