Título: PIB cai mais do que o esperado e aumenta risco de recessão
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2009, Economia, p. B1

Queda de 3,6% no 4º tri de 2008, a maior em 12 anos, pressiona Copom por maior corte de juros na reunião de hoje

Abalado pela crise financeira internacional, o Produto Interno Bruto (PIB) desabou no último trimestre de 2008, puxado por uma contração drástica da indústria de transformação e dos investimentos, numa violenta ruptura do círculo virtuoso de crescimento iniciado em 2004. Em relação ao trimestre anterior, na medida em que elimina flutuações sazonais, o PIB do último trimestre caiu 3,6%, a maior queda desta série, iniciada em 1996. Em todo o ano de 2008, o PIB cresceu 5,1%.

Segundo o relatório da analista Giovanna Siniscalchi, do Unibanco, o Brasil teve no trimestre um declínio maior que toda a queda acumulada pelos EUA desde dezembro de 2007, de 1,7%. O resultado brasileiro foi pior do que a grande maioria dos analistas esperavam, em torno de 2,5%.

O péssimo resultado do PIB no quarto trimestre aumentou a expectativa do mercado por um grande corte da taxa básica de juros, na reunião de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom). A aposta principal agora é de 1,5 ponto porcentual, mas há quem fale em 2 pontos.

"O grande problema é como o Banco Central vai lidar com isso, já que eles anteriormente não estavam dispostos a ser muito agressivos na queda", disse Alexandre Póvoa, diretor do Modal Asset Management.

Para Rebeca Palis, gerente de contas trimestrais do IBGE, no último trimestre de 2008 "houve ruptura, mas não se sabe se é tendência ou não". Segundo Aurélio Bicalho, economista do Itaú, o resultado "confirma um quadro de deterioração mais rápida e intensa, que surpreendeu e torna as perspectivas para 2009 ainda piores". Itaú e Bradesco, os dois maiores bancos privados nacionais, já antecipam um crescimento do PIB para 2009 próximo ou abaixo de zero.

Na comparação dessazonalizada com o terceiro trimestre, a indústria caiu 7,4% (segundo pior resultado desde 1996) e os investimentos tiveram uma retração de 9,8% (pior resultado da série). A agropecuária e os serviços caíram 0,5% e 0,4%. O consumo das famílias, maior componente do PIB, recuou 2% no último trimestre, o primeiro resultado negativo desde o segundo trimestre de 2003.

Já na importante medida do crescimento em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, que vinha num ritmo acima de 6% desde o quarto trimestre de 2007, o PIB despencou para 1,3% nos três últimos meses do ano passado. É o pior resultado desde o quarto trimestre de 2003, quando ficou em 0,8%.

O consumo do governo foi o único item da demanda a mostrar resistência de outubro a dezembro de 2008, com 0,5% ante o trimestre anterior e 5,5% ante igual período do ano passado.

No ano completo de 2008, porém, o resultado do PIB ainda foi muito bom, com 5,1%, impulsionado pelo ritmo excepcional antes que a quebra do Lehman Brothers jogasse o mundo na crise.

Ainda assim, o estrago fica evidente no fato de que, nos 12 meses até o terceiro trimestre de 2008, o PIB cresceu 6,3%, acima dos 5,1% do ano.

Na comparação do último trimestre de 2008 com igual período de 2007, a indústria caiu 2,1%. O pior resultado foi o da indústria de transformação, que caiu 4,9%, o primeiro resultado negativo desde o segundo trimestre de 2006. Segundo o IBGE, os setores mais afetados foram os da cadeia automotiva, como veículos, metalurgia e borrachas e plásticos, além de máquinas e equipamentos, têxteis e produtos químicos.

O setor industrial de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana foi o que mais cresceu, com 3,2%, seguido da construção civil, com 2,1%. A mineração cresceu 0,2%, com queda de 18,9% na produção de minério e alta de 6,3% na extração de petróleo e gás.

Entre todos segmentos, a maior alta foi dos serviços de informação, com 9,1%, puxados pela telefonia celular.