Título: Consumo das famílias cai pela 1ª vez em 6 anos
Autor: Silva, Cleide; Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2009, Economia, p. B3

Queda foi de 2% no último trimestre do ano passado em relação ao anterior, segundo o IBGE

O brasileiro sentiu o tranco da crise de crédito na hora de ir às compras. O consumo das famílias caiu 2% no último trimestre do ano passado em relação aos três meses anteriores, o primeiro recuo desde o segundo trimestre de 2003, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A comerciante Nancy Nunes de Oliveira, por exemplo, já mudou os hábitos de compras nos supermercados. "Troquei marcas. Itens como leite e sabão em pó compro os que estão em promoção", conta Nancy que é dona de uma gráfica e viu o faturamento da sua empresa encolher 40% em janeiro. Além de controlar as compras de supermercados, o plano de trocar os móveis e os eletrodomésticos da casa foi adiado por tempo indeterminado. No ano passado, a comerciante reformou a casa e agora pretendia renovar os equipamentos, como o freezer e o home theater.

A freada nas compras de brasileiros como Nancy que foi captada pelos números do Produto Interno Bruto (PIB) deve tirar o ímpeto de crescimento do consumo nos próximos meses.

A Tendências Consultoria Integrada projeta crescimento de apenas 1% para o consumo das famílias neste ano. Em 2008, o consumo das famílias aumentou 5,4%. "O desempenho do consumo das famílias em 2009 será o menor desde 2003, quando houve um recuo de 0,8%", observa a economista da Tendências, Marcela Prada.

Além das restrições na aprovação do crédito, que já começaram a ocorrer, Marcela pondera que o impacto do desemprego na renda vai ampliar a retração nas compras de bens duráveis e não duráveis, como alimentos e produtos de higiene e limpeza nos próximos meses.

SERVIÇOS

Além de compra de bens, o consumo de serviços financeiros, aluguel de imóveis, despesas com informação, transporte, saúde e educação, por exemplo, recuou 0,4% no último trimestre de 2008 na comparação com o terceiro trimestre. Dependente da renda, o setor de serviços sentiu o impacto das demissões e da consequente redução do consumo ocorridas no ano passado. Para o economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio), Guilherme Dietze, o fator determinante da queda no último trimestre de 2008 para o setor foi a redução do consumo das famílias, no mesmo período.

Como a economista da Tendências, Dietze diz que a redução do consumo das famílias deve continuar no primeiro trimestre deste ano. "Prevemos um cenário negativo no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, até porque partimos de uma base de crescimento muito forte em 2008."

FRASE

Marcela Prada Economista da Tendências

"O desempenho do consumo das famílias em 2009 será o menor desde 2003, quando houve um recuo de 0,8%"