Título: Indústria quer evitar novo tombo em 2009
Autor: Silva, Cleide; Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2009, Economia, p. B3

Sob impacto da crise mundial, a indústria brasileira encolheu 7,4% no último trimestre de 2008 em relação ao trimestre anterior. Foi o pior resultado do setor desde o quarto trimestre de 1996, ano em que se iniciou a atual série histórica do Produto Interno Bruto (PIB). Com isso, a indústria contribuiu decisivamente para a queda de 3,6% do PIB nacional no período. Os setores agropecuário e de serviços também recuaram, embora com taxas mais brandas, de 0,5% e 0,4%, respectivamente

Mesmo assim, a indústria acumulou 4,3% no ano, por causa do bom desempenho de janeiro a setembro de 2008. Mas a perspectiva para este ano não é boa. Segundo empresários e economistas, se o quadro atual for mantido, a indústria vai apresentar estagnação ou até retração em 2009.

A previsão de Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, é de queda de 2,4% do PIB industrial este ano. "O resultado será puxado para baixo principalmente pela indústria de transformação, cujos números de janeiro foram bastante negativos." O setor de transformação foi o principal responsável pelo resultado negativo da indústria no quarto trimestre de 2008. Toda a cadeia produtiva de veículos foi atingida pela crise de crédito.

Mantidas as atuais condições, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e hoje professor da Universidade Estadual de Campinas, estima queda entre 4% e 5% para a indústria neste ano.

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, a política econômica deve utilizar todos os instrumentos para atenuar o impacto da retração da atividade. "É urgente recuperar o crédito aos agentes domésticos e promover mecanismos de substituição das linhas externas às exportações, muito reduzidas com a crise."

Na mesma linha, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, defendeu a redução da taxa Selic dos atuais 12,75% ao ano para 8%, para evitar uma recessão. "Para equilibrar a desaceleração, a indústria precisa crescer, a partir de fevereiro, 2% em todos os meses do ano e assim gerar consumo."

ZONA FRANCA

As indústrias da Zona Franca de Manaus, agrupadas nos polos de produção de eletroeletrônicos, motocicletas e plásticos, já demitiram desde o último trimestre do ano passado até hoje 13 mil trabalhadores, de 117 mil que empregavam em setembro último, nas contas do presidente do Centro da Indústrias do Estado do Amazonas, Maurício Loureiro. "No curto prazo, é a pior crise que enfrentamos na Zona Franca de Manaus porque em quatro meses o cenário mudou completamente."

Dependente de crédito, o segmento mais afetado no último trimestre do ano passado foi o de eletroeletrônicos. Loureiro lembra que os fabricantes de motocicletas fecharam acordos com o governo do Estado do Amazonas para reduzir impostos e conseguiram atenuar parcialmente a crise. Mesmo assim, em janeiro, as vendas continuaram em queda.