Título: Investimento despenca 9,8%
Autor: Silva, Cleide; Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2009, Economia, p. B3

Sobeet estima que desempenho ruim deve se manter este ano, com perda de 6% ante 2008.

Os investimentos no País devem cair cerca de 6% este ano, diante do fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre do ano passado. Pelos cálculos da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), o total do investimento nacional e estrangeiro, público e privado, deve ficar em cerca de R$ 532 bilhões, ante os R$ 566 bilhões projetados para 2008 (o número oficial ainda não foi divulgado). No último trimestre de 2008, os investimento caíram 9,8%, na comparação com o trimestre anterior, na série dessazonalizada.

Para Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet, os setores que terão maior dificuldade em investir este ano são aqueles mais sensíveis ao crédito e com muita dependência das exportações, como o agropecuário - principalmente o segmento sucroalcooleiro - e o mobiliário.

O setor automotivo, na opinião de Lima, "é uma incógnita", pois está sendo beneficiado pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), previsto para durar até o fim deste mês. Além disso, as montadoras, lembrou ele, normalmente atuam com programas de longo prazo que já estão em andamento. As empresas reafirmaram que mantêm seus planos anunciados até 2012.

Nos cálculos para o índice de investimento, Lima leva em conta a taxa básica de juro real no ano, a evolução do Índice de Confiança da Indústria calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a série histórica dos investimentos.

Já o economista do JP Morgan, Júlio Callegari, espera uma contração de 10% nos investimentos este ano, "tendo em vista a desaceleração que começou mais forte no quarto trimestre, a confiança do empresariado reduzida, o cenário global difícil e o mercado de crédito apertado".

A crise internacional, na verdade, atingiu como um torpedo a retomada dos investimentos no Brasil, que vinham crescendo acima de 13% desde o segundo trimestre de 2007, na comparação com iguais trimestres dos anos anteriores. Nos três últimos meses de 2008, porém, essa taxa freou abruptamente para 3,8%, depois de ter chegado a 19,7% no terceiro trimestre.

O baque nos investimentos ocorreu num momento particularmente promissor. A taxa de investimentos atingiu 19% do PIB em 2008, saltando 1,5 ponto porcentual em relação a 2007. Em 2005, ela estava em apenas 15,9%. Em 2008, os investimentos cresceram 13,8%, com avanço de 8,9% na construção civil e de 18,9% em máquinas e equipamentos (inclui importação).

Apesar do pessimismo geral, o empresário Eike Batista, dono do grupo EBX, disse que não pretende reduzir investimentos no País. Ele admitiu que pode ganhar menos, mas acha que vai continuar ganhando.

O executivo cita o exemplo da extração de petróleo. Mesmo com queda forte no preço do barril, de US$ 150 no pico para os atuais US$ 44,50, o valor ainda está bem acima do custo de produção da companhia - em torno dos US$ 8. "O importante nesse momento é ser um produtor de baixo custo."

Já o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, considerou que medidas de desoneração do investimento são "imprescindíveis" para a recuperação."

COLABORARAM LUCIANA XAVIER, DENISE ABARCA e MÔNICA CIARELLI