Título: Não adianta querer evitar tudo. Essa fase passa
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2009, Economia, p. B4
Claudio Haddad: presidente do Ibmec São Paulo; para economista, Brasil vai sair antes da crise do que outros países. Terá, porém, de se conformar com uma queda do PIB em 2009
O economista e presidente do Ibmec São Paulo, Claudio Haddad, avalia que os números do Produto Interno Bruto (PIB) do 4º trimestre indicam que "a recessão será mais longa e profunda do que se esperava".
O que o PIB sinaliza para 2009?
O que passou, passou. Não adianta ficar olhando o passado. Mas tudo indica que a recessão será mais longa e mais profunda do que se esperava. Antes, havia a expectativa de que o PIB deste ano ia crescer ao menos 3%. Agora, a maioria dos analistas já espera um PIB próximo de zero ou negativo.
É possível amenizar esse efeito?
O BC vai continuar reduzindo os juros. Também se deve levar em conta que as empresas vão se ajustando aos novos níveis - por exemplo, preços de commodities. Ou seja, o sistema econômico se adapta. O Brasil tem condições de se adaptar muito mais cedo do que os países desenvolvidos, pois seu sistema financeiro ficou praticamente intacto. Em compensação, é ilusão dizer que o Brasil não vai sofrer, que vai continuar crescendo.
Como vê a pressão sobre o BC para baixar o juro?
Confio no BC, que tem tido atuação impecável. Tem baixado o juro quando tem de baixar e subido quando tem de subir. Sempre se pode criticar aqui e ali, mas, no geral, está indo muito bem. O que ocorre hoje é até meio desagradável. Fica parecendo que no BC há um bando de perversos ou ignorantes. Devemos dar um crédito de confiança.
É possível ter política anticíclica para amenizar a desaceleração?
Há espaço na política monetária. Mas, no lado fiscal, eu tomaria muito cuidado. Há uma expansão de incentivos, gastos correntes, etc que pode atrapalhar muito a política fiscal nos próximos anos.
Se o BC, na sua opinião, faz o que deveria e a política fiscal não pode se expandir muito, a desaceleração é inevitável?
Não tem como evitar porque, dos componentes de demanda, dois caíram fortemente. Exportações, em razão da situação externa, que causou uma queda de preços e quantidade. E investimentos. Apesar das expectativas otimistas do governo, os empresários têm sua maneira de pensar. Eles veem o mundo todo se espatifando aí fora e não vão fazer grandes investimentos. A terceira componente, que é o consumo, não caiu tanto. De qualquer forma, a queda nos outros dois é tão forte que o PIB vai ter de se reduzir. Não adianta querer evitar tudo. Essa fase passa. A transição brasileira será muito mais rápida do que nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que inclui, entre outros, EUA, Japão e França).
Concorda com a avaliação recente do governo, segundo a qual o Brasil entrou por último na crise, mas sairá primeiro?
Tendo a concordar, porque acho que o Brasil, estruturalmente, foi bem menos afetado. Está aí o sistema financeiro (saudável), o Banco Central tem espaço na política monetária (o que não ocorre nos países da OCDE, que já reduziram o juro para perto de zero e, mesmo assim, têm um sistema financeiro quebrado).