Título: Contra-ataque deve ser com política monetária
Autor: Rehder, Marcelo; Gobetti, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2009, Economia, p. B5

A queda de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre de 2008 surpreendeu o economista José Roberto Mendonça de Barros. Sua consultoria, a MB Associados, projetava um recuo de 2,5%. Mais importante do que avaliar o passado, porém, é entender o que esses dados indicam para o futuro.

Mendonça de Barros tem a resposta pronta. "Os números indicam, na melhor das hipóteses, uma estagnação do Brasil em 2009", afirmou ao Estado. Para ele, a surpresa em relação ao resultado se deve ao fato de que a maior parte do mercado estava atenta, especialmente, ao consumo do governo e das famílias. No entanto, observou, as exportações de manufaturados despencaram "uma montanha" e o investimento teve uma parada "monumental".

Na avaliação dele, o Brasil tem pouco espaço para contra-atacar, o que significa que o mercado de trabalho continuará se deteriorando, com implicações sobre a demanda e a atividade econômica. "Aqui, a política fiscal pode fazer muito pouco." Sobra, então, a política monetária, onde haveria "muito mais espaço para trabalhar". Por isso, ele avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC poderia até mesmo cortar a taxa básica de juros (Selic) em dois pontos porcentuais na reunião que termina hoje.

Mas ele mesmo descarta uma redução dessa magnitude por causa da postura tradicionalmente cautelosa da autoridade monetária. O BC, a seu ver, deve optar por um corte de 1,5 ponto porcentual, o que levará a Selic para 11,25% ao ano. Ainda que isso ocorra, Mendonça de Barros avisa que só vê recuperação no País em 2010. "Será uma longa travessia."