Título: Discórdia e disputa no aço
Autor: Friedlander, David; Pacheco, Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2009, Economia, p. B5

Imbróglio envolve Transpetro, Usiminas, Vale e China

O aço é um dos produtos que mais têm enfrentado barreiras nos últimos tempos. A mais recente delas deve vir dos Estados Unidos com a aprovação da cláusula "buy American" pelo Senado, que determina a compra de produtos americanos, entre eles aço e derivados, para obras governamentais.

Empresas como a Gerdau não devem ser atingidas porque têm fábrica nos Estados Unidos e no Canadá. O Instituo Brasileiro de Siderurgia (IBS) é cauteloso sobre o assunto. "É legítimo que o governo americano queira estimular seu mercado, contanto que não vá contra as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC)", diz Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente executivo.

O país é o principal mercado do aço brasileiro. "O aço do Brasil é vendido a mais de 100 países. Se os EUA se fecharem, podemos redirecionar essas exportações", aposta o executivo.

Ao mesmo tempo que vê as portas americanas se fecharem ao aço brasileiro, Lopes briga pela imposição de barreiras ao produto chinês. O ponto central da disputa é uma licitação da Transpetro, subsidiária de logística da Petrobrás, para a compra de aço. Mas também visa barrar futuros contratos, como o que a Vale pode fechar com o país asiático.

A Usiminas ofereceu um preço 30% maior do que os chineses. Marco Antonio Castello Branco, presidente da Usiminas, diz que o preço do aço da China é irreal. "Estamos nos sentindo atacados pela concorrência desleal", comenta.

A disputa do aço chegou ao Palácio do Planalto. Nos próximos dias está prevista uma reunião entre IBS, Usiminas, Casa Civil e Transpetro. "A China está desovando a ponta de estoque no Brasil. Temos de nos proteger de uma importação predatória. Ou será que é melhor preservar emprego na China?", provoca Lopes.

Além da Transpetro, quem sonda o aço chinês é a Vale. A empresa tem um projeto de US$ 2,2 bilhões para a construção da Companhia de Alumina do Pará, em parceria com a Norsk Hydro. Em nota, a mineradora não nega o interesse pelo produto da China: "A Vale sempre está buscando as melhores oportunidades e olhando mercados para buscar melhores preços".