Título: BCs discutem captação bilionária para salvar países
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2009, Economia, p. B6

Sem crédito, emergentes estão na mira; plano prevê emissões pelo FMI.

Os principais bancos centrais do mundo se mobilizam para tentar encontrar formas de evitar um default generalizado nos países em desenvolvimento, restabelecer as linhas de crédito e baixar o spread. Pela primeira vez o debate deixou de ser a crise nos países ricos e a preocupação principal é de como evitar uma contaminação generalizada. Para isso, começam a debater ideia de uma nova moeda-reserva internacional para tirar o planeta da crise e novas formas de injetar recursos no Fundo Monetário Internacional (FMI).

Reunidos desde ontem na Basileia, os xerifes das finanças internacionais avaliam a proposta de que o FMI emita papéis no mercado e atraia investidores para um fundo de cerca de US$ 250 bilhões. O dinheiro socorreria as economias mais vulneráveis. A ideia seria uma das que entrariam na agenda da cúpula do G-20, no início de abril.

Todos os esforços estão concentrados em uma só direção: recolocar o sistema financeiro para funcionar e evitar a quebra de economias vulneráveis.

Só o financiamento à exportação no mundo caiu em mais de 50%, assim como as demais linhas de crédito. Para superar isso, o custo do crédito precisa ser reduzido. O único problema é que, por enquanto, não há um acordo sobre como fazer isso.

Presidentes dos maiores BCs do mundo iniciaram ontem reuniões no Banco de Compensações Internacionais (BIS) para avaliar como resgatar a economia da pior crise em 60 anos. Henrique Meirelles, presidente do BC brasileiro, participa do encontro.

O canal de contaminação entre o epicentro da crise e os emergentes foi a falta de linhas de crédito que, nos últimos anos, financiava suas expansões. Segundo o Banco Mundial, um aprofundamento da crise geraria um rombo de US$ 700 bilhões na captação de crédito dos países em desenvolvimento. Só em falta de investimento, o buraco pode ser de US$ 268 bilhões. Segundo o BIS, a falta de dólares na economia está deixando rombos em bancos que precisavam financiar suas exposições. Para os países, a falta de dólares representa ameaça de calote.

Para evitar default generalizado, uma proposta debatida ontem foi a de criar uma emissão especial de papéis do FMI no mercado internacional, na forma de Direitos Especiais de Saque (SDR na sigla em inglês). O lançamento seria de US$ 250 bilhões, que alimentariam um novo fundo para o socorro de governos. Na avaliação dos BCs, a situação é "muito grave". Assim, a falta de créditos nos países em desenvolvimento poderá acabar sendo suprida por investimentos privados.

REFORMA DO FMI

O financiamento do mundo em desenvolvimento diante da crise será levado pelos países emergentes à reunião do G-20. O Brasil insiste que sua proposta de reformar o FMI e dar mais espaço nas decisões do órgão aos emergentes também continua sobre a mesa. Os países ricos tem interesses em evitar esse default, já que foram seus próprios bancos que fizeram os empréstimos nos últimos anos e que, com um calote, acabariam em colapso e agravando a crise.

A Europa já propôs reforçar o caixa do Fundo Monetário Internacional com US$ 500 bilhões para oferecer aos mercados vulneráveis.

O debate agora é quem é que ficará com mais essa conta. A pressão é para que a União Europeia banque a recuperação de países como Hungria, República Tcheca e outros . Já outros países teriam de ter a conta compartilhada entre a UE e FMI.

RECURSOS

US$ 250 bilhões é o montante que o FMI estuda captar no mercado, para criar um fundo e salvar países emergentes

50% foi a queda dos financiamentos às exportações no mundo, e foi acompanhada da redução de outras linhas de crédito