Título: País registra 1,2 mil plásticas ao dia
Autor: Sant?Anna, Emilio
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2009, Vida&, p. A15

Foram 457 mil cirurgias estéticas em 1 ano e outras 172 mil reparadoras, diz pesquisa; implante de silicone lidera

Emilio Sant?Anna

Conhecido com um dos países que mais realizam cirurgias plásticas no mundo, o Brasil registrou 1.252 operações estéticas por dia entre setembro de 2007 e agosto de 2008. Ou seja, foram 457 mil cirurgias desse tipo no período. Somadas aos procedimentos reparadores - normalmente feitos em pacientes após uma grave doença ou vítimas de violência - foram 629 mil operações. Os dados são de uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), encomendada ao Instituto Datafolha e divulgada ontem. Em 2004, segundo outra pesquisa da sociedade, foram 617 mil cirurgias no total.

O levantamento revela também que, pela primeira vez, os implantes de silicone (96 mil) ultrapassaram as lipoaspirações (91 mil), até então a preferida dos brasileiros. As mulheres foram as que mais procuraram os procedimentos estéticos: 402 mil, contra 55 mil homens.

Para se ter ideia da magnitude desses números, em todo o ano passado, foram feitos 116.821 procedimentos cardiovasculares no País - levando-se em conta as cirurgias cardíacas, angioplastias e colocação de marca-passos -, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular e do DataSUS.

Uma das 96 mil mulheres que passaram pela cirurgia para implante de silicone é a representante de vendas Maria Carolina Rudge Guimarães, de 32 anos. Com 1,60 m e 42 kg, aumentou dois números o tamanho de seu sutiã com os 200 ml de cada uma das próteses. "Não tinha nada (de busto), mas antes de colocar a prótese tive medo que ficasse grande. Hoje, até acho que podiam ser maiores", diz. Após sua cirurgia, diz que pelo menos três amigas tomaram coragem para fazer o mesmo. "Depois que elas viram, resolveram fazer na hora."

Os resultados da pesquisa são bem recebidos pelo presidente da SBCP, José Yoshikazu Tariki, que comemora o progresso da especialidade, mas faz uma ressalva: a qualidade dos médicos atuando como cirurgiões plásticos. "Algumas especialidades são tão específicas que só deveriam ter profissionais capacitados atuando", afirma. A preocupação de Tariki tem fundamento. A legislação brasileira permite que o médico exerça qualquer especialidade, mesmo que não tenha o título de especialista na área. O reflexo para a cirurgia plástica pode ser medido por uma pesquisa do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).

Entre 2001 e 2008, de acordo com dados do conselho, 97% dos médicos denunciados ao órgão por erros ou imperícia durante a realização de cirurgias plásticas não tinham o título de especialização na área. "Nós achamos que isso é resultado da proliferação das escolas médicas no País", explica Tariki. Outro dado que causa alerta é o aumento de denúncias que chegam ao Cremesp e as que vão parar no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Nas duas esferas, as cirurgias plásticas malsucedidas lideram o ranking de reclamações. "Sempre fazemos o alerta para que o paciente procure saber quem é o médico que vai fazer a operação", diz Tariki.

VIOLÊNCIA

A pesquisa revela ainda que 172 mil cirurgias reparadoras foram feitas no período analisado. Em 2004, eram 250 mil. Entre elas, chama a atenção o número de procedimentos resultantes dos tumores malignos e da violência. Enquanto os casos de câncer de pele e de mama respondem por 74 mil operações registradas pela pesquisa (202 ao dia), os casos de violência e acidentes geraram 22 mil cirurgias, ficando à frente, por exemplo dos procedimentos causados por defeitos congênitos (21 mil), queimaduras (21 mil) e acidentes domésticos (12 mil).

NÚMEROS

1.252 operações estéticas foram realizadas por dia entre 2007 e 2008 no País

471 cirurgias reparadoras foram registradas ao dia. Dessas, 202/dia foram após casos de câncer e 60/dia por violência

96 mil procedimentos foram implantes de silicone