Título: Para auditores e delegados, ajuda reduz dificuldades
Autor: Auler, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2009, Nacional, p. A8

Os delegados federais e os auditores da Receita Federal que receberam altas ajudas de custo consideram que o pagamento apenas tenta minorar a situação a que são submetidos para atender ao interesse público. Rogério Augusto Galloro, por exemplo, lembra que tem esposa e dois filhos e qualquer mudança gera impacto na família, como escola e adaptação.

Ele estava preparado para ficar dois anos no Recife, quando o atual diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa, assumiu: "Três superintendências estavam vazias e em situação administrativa ruim, precisavam de alguém com energia, com gás para enfrentar o marasmo." Ficou em Goiânia um ano e meio e até construiu uma casa, mas surgiu novo convite, para a Diretoria de Logística. "Para mim foi dificílimo vir de Goiânia para cá. Vim para atender a uma demanda do dr. Luiz Fernando. Foi outro baque para minha família, ela não pode pensar em mudar. O impacto social que tive na minha vida não me permitiria abrir mão desta indenização."

Já o delegado Carlos Rogério Cota não se estendeu no assunto: "Não tem por que fazer nenhuma defesa, não tenho porque me defender. É um ônus o servidor público ser removido. Não é benesse nenhuma."

Seu colega José Maria Fonseca, mineiro que foi morar em Boa Vista (RR) para a desocupação da Reserva Raposa do Sol pelos fazendeiros, lembra que não ganha nada mais para trabalhar lá. "Estou abrindo mão da vantagem de morar na região Sudeste, em uma cidade muito melhor do que Boa Vista, melhor do que Cuiabá, onde eu tenho casa para morar. Sem contar o custo de vida, que aqui é alto. Se for considerar tudo isto, este valor nem compensa para ficar aqui por um ano".

O superintendente do Rio, Ângelo Fernandes Gioia, não quis se estender no assunto. Lembrou que em 30 anos de PF só teve três remoções. "Se considerarmos que são 30 anos, será um valor significativo?"

O auditor fiscal Augusto Conte lembra que foi para Brasília a convite, na gestão Jorge Rachid. Depois, com a mudança da cúpula, voltou a Salvador. "Fui exonerado e, em função da exoneração, por lei, o Estado tem de me devolver ao meu local de origem."

Paulo Roberto Ximenes Pedrosa ficou dois anos em Brasília e só voltou para o Rio por ter sido convidado para novas funções. "No caso dos cargos técnicos, os convites vêm da área técnica. São os coordenadores que convidam, o secretário apenas ratifica. Não teve política, foi estritamente técnico. Até acho que, apesar de gerar esses gastos, discordo de se ter um chefe eterno. No meu cargo, o anterior estava há mais de 10 anos."

O mineiro Roberto Alvarenga Junqueira lembra que estava na Corregedoria de Brasília, abriu a vaga em Salvador. "Fiquei um ano e meio e fui nomeado para a Delegacia da Receita em Juiz de Fora. Estou aqui desde junho de 2008. Fiquei um ano e meio em Salvador. A legislação fala que, se ficasse menos de 90 dias, teria de devolver a ajuda de custo e, se eu fosse removido novamente em menos de um ano, não receberia outra ajuda de custo. Como passaram 12 meses, tenho direito a receber", afirma. "A ajuda de custo serve para suprir as dificuldades das mudanças."