Título: Câmara bancou gasolina em posto de deputado
Autor: Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2009, Nacional, p. A7

Nove parlamentares com negócios no ramo dos combustíveis entram na mira da corregedoria

O uso da verba indenizatória pelos deputados para cobrir gastos com combustíveis entrou na mira da Corregedoria da Câmara. Nove parlamentares, de acordo com as prestações de bens declaradas à Justiça Eleitoral, aparecem como donos de postos ou distribuidoras de combustíveis. "Só uso nota de postos meus porque tenho a garantia de que o combustível é de boa qualidade", justificou Osório Adriano (DEM-DF). "Eu lá vou abastecer no posto da concorrência!" O valor da verba hoje é de R$ 15 mil mensais, dos quais R$ 4,5 mil podem ser gastos com combustíveis.

Osório disse que não há nenhum problema legal ou ético em abastecer no próprio posto com dinheiro público e ponderou que é um dos mais comedidos nos gastos com combustíveis - "apenas R$ 800 ao mês". Segundo levantamento do Estado, o valor é R$ 1.155, 33 por mês, entre janeiro de 2008 e fevereiro de 2009. O detalhe é que o Distrito Federal, base de Osório, é a menor unidade da Federação.

Os gastos desse item estão entre os mais difíceis de fiscalizar e por isso são alvos frequentes de fraudes. Em apenas dois meses do ano passado, os deputados teriam comprado 1 milhão de litros de gasolina, o suficiente para dar 255 voltas ao redor da Terra. O deputado Edmar Moreira (sem partido-MG) está sob investigação da corregedoria porque usou notas de empresas ligadas a ele para justificar gastos com segurança pagos com verba indenizatória.

Entre os nove deputados identificados, o mais gastador é Moisés Avelino (PMDB-TO), dono do Posto Atalaia, em Palmas. Ele gastou R$ 60,2 mil no mesmo período, utilizando quase todo mês a cota máxima de R$ 4,5 mil destinada a gastos com combustíveis. "As notas que entrego são todas quentes e nenhuma delas veio de empresa minha", garante.

Segundo do ranking, com R$ 55,5 mil gastos, José Rocha (PR-BA) tem uma explicação na ponta da língua. "Usei o que é permitido por necessidade de deslocamento num Estado com as dimensões do meu." Ele explicou que seu posto em Bom Jesus da Lapa está em construção e nem bomba tem.

O deputado João Carlos Bacelar (PR-BA), dono da Distribuidora Master Luber, disse que não vende a varejo, só no atacado. Ele gastou R$ 52 mil no período e também alega as "dimensões continentais" de sua terra para justificar o maior uso da cota. Garante porém que nunca apresentou nota de sua empresa.

Mauro Lopes (PMDB-MG), que gastou R$ 40 mil, também alega que seu Estado é muito grande. Igual explicação deu Antônio Andrade (PMDB-MG), que gastou R$ 47 mil e diz que nunca apresentou nota de seu posto, o Mangueirão. Eduardo da Fonte (PP-PE) também afirmou que não usa nota própria. Edinho Bez (PMDB-SC) e Gervásio Silva (PSDB-SC), também donos de postos, não foram encontrados.