Título: Lula imita Chávez na retórica contra imprensa, afirma SIP
Autor: Assunção, Moacir
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2009, Nacional, p. A10

Para entidade, estilo do venezuelano também é seguido por Evo Morales e Rafael Correa

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) - que congrega 1.300 veículos no continente - fez um alerta em seu último relatório, divulgado anteontem em Assunção, para ameaças à liberdade de expressão em praticamente toda a América Latina. De acordo com o documento, há riscos a exercício da liberdade de expressão por causa da violência em países como Venezuela, Paraguai, México e Cuba. No Brasil e em outros países, o risco reside na retórica agressiva de governantes, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, citado no documento como autor de "críticas desmedidas" à imprensa toda vez que o enfoque do noticiário ou de um comentário não lhe agrada. Lula é comparado ao presidente venezuelano Hugo Chávez, que usa uma "retórica agressiva" contra a imprensa e os jornalistas.

A par da violência, o discurso de Chávez tem, segundo o documento, encontrado imitadores e aliados na Bolívia, Nicarágua, Honduras, Colômbia, Costa Rica, Guatemala e Uruguai, além do Brasil. Nos Estados Unidos, a ameaça maior é a crise econômica vivida pelos jornais, que ameaça seu papel de fiscalização contra a corrupção pública e privada. Também há problemas na Argentina, onde sindicalistas ligados ao governo bloquearam as oficinas gráficas dos jornais La Nación e Clarín. No geral, para a SIP, a situação deteriorou-se nos últimos seis meses, depois da última reunião, em Madri.

De acordo com a entidade, que reuniu 250 empresários e editores, somente desde outubro, seis jornalistas foram mortos nas Américas em consequência de sua profissão. Foram quatro no México - Luís Mendéz, Armando Rodriguez, Miguel Ángel Villa Goméz e David Garcia. Também ocorreram no país ataques contra profissionais e seus locais de trabalho. Mais um jornalista, David Zambrano, foi morto na Venezuela e outro, Martin Ocampo, no Paraguai.

Em Cuba, apesar da saída de Fidel Castro e sua substituição por Raúl Castro, ainda há 26 jornalistas presos, cumprindo sentenças de até 28 anos.

Na Venezuela, mais uma vez o presidente Hugo Chávez foi criticado pela entidade, por causa de seu discurso contra a imprensa e os jornalistas. "O presidente Chávez continuou seu trabalho incansável de humilhação oficial da imprensa. Essa retórica tem consequências concretas, como se pode observar nos violentos ataques contra jornalistas da Globovisión, em outubro, e a explosão de bombas de gás lacrimogêneo nos escritórios do jornal El Nuevo País, ambos por parte do grupo La Piedrita, que conta com a aprovação do governo."

"AZIA"

Entre os casos concretos citados no relatório da SIP sobre o presidente brasileiro, destaca-se o episódio da entrevista na revista Piauí, na qual ele afirmou que a leitura dos jornais lhe dá "azia" e a quase expulsão, em 2004, do jornalista Larry Rother, então correspondente do New York Times, que publicou reportagem sugerindo que havia uma "preocupação nacional" com supostos excessos do presidente no consumo de bebida alcoólica. Lula determinou o cancelamento do visto de Rother, o que levaria à sua expulsão, mas voltou atrás.

Além de Lula, são citados como imitadores de Chávez no continente Evo Morales, da Bolívia; Rafael Correa, do Equador; Daniel Ortega, da Nicarágua; Manuel Zelaya, de Honduras; Alvaro Uribe, da Colômbia; Oscar Arias, da Costa Rica, e Alvaro Colom, da Guatemala. "O exemplo mais extremo talvez seja o Uruguai, cujo governo chamou os jornalista de ?vermes?, ?palhaços? e ?filhos da puta?", aponta o documento.

Outro problema, na visão da SIP, é que "muitos governos continuam usando a propaganda oficial como uma forma de punir meios de comunicação independentes e de premiar linhas editoriais a seu favor". O relatório anota ainda que a entidade "apoia fortemente um clima diverso e de muitas vozes para os meios de comunicação, mas observa com alarme a crescente prática dos governos de criar ou manipular companhias de radiodifusão e publicações para convertê-los em veículos de propaganda".