Título: Bolsas disparam com anúncio de resgate de bancos
Autor: Modé, Leandro; Violante, Claudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2009, Economia, p. B3

Bovespa teve a segunda maior alta do ano e, nos EUA, o avanço foi o maior desde outubro do ano passado

Leandro Modé e Claudia Violante

As bolsas de valores americanas tiveram ontem as maiores altas desde outubro do ano passado, em reação ao plano do governo Barack Obama para resgatar o sistema financeiro. O Índice Dow Jones, o mais tradicional da Bolsa de Nova York, disparou 6,84% e a bolsa eletrônica Nasdaq, 6,76%. No Brasil, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) saltou 5,89%, segunda maior alta porcentual de 2009.

"O anúncio foi bem recebido porque finalmente apresenta uma solução mais ampla para o problema (dos bancos)", disse o ex-diretor do Banco Central (BC) Paulo Vieira da Cunha, que atualmente é sócio da Tandem Global Partners.

"A euforia é compreensível porque, até agora, as medidas que haviam sido divulgadas incluíam dívidas recentes. Agora, também envolvem as antigas (como os empréstimos subprime, que estão na origem da crise)", completou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

Como ainda há muitas dúvidas sobre a execução - e o próprio sucesso - do plano, analistas recomendam cautela com os números exuberantes exibidos pelas bolsas ontem.

Patrick Corrêa, analista da Máxima Asset, disse não saber até quando o entusiasmo vai durar, já que, segundo ele, o pacote reforça o já elevado montante de recursos injetado no sistema, ampliando os riscos de inflação. "Isso sem considerar que alguém vai pagar a conta", argumentou.

No mercado americano, as ações que tiveram as valorizações mais expressivas ontem foram as do setor financeiro. Os papéis do Bank of America (BofA) - que possui pesada exposição em bônus hipotecários tóxicos e outros ativos complicados após a aquisição do Merrill Lynch - avançaram 26,01% e lideraram os ganhos do Dow Jones. As ações do JPMorgan avançaram 24,67%, enquanto as do Citigroup fecharam em alta de 19,47%.

Além da avaliação óbvia de que uma solução definitiva para os problemas do setor financeiro podem finalmente estar a caminho, os investidores também observaram que o plano afasta a hipótese de estatização do sistema - o que é ruim para os acionistas.

É daí, aliás, que vem uma das críticas ao programa do secretário do Tesouro, Timothy Geithner. Segundo muitos analistas, o plano - se bem sucedido - representará ganhos expressivos para os donos de ações. Entre esses críticos está o ex-diretor do Banco Central (BC) e economista-chefe do Banco Santander, Alexandre Schwartsman. Outro especialista, que pediu para não ser identificado, lembrou que, há cerca de um mês, as ações do Citigroup estavam cotadas abaixo de US$ 1. Ontem, encerram o dia valendo US$ 3,13. Ou seja, nesse curto período, se valorizaram mais de 200%. "Alguém ganhou muito dinheiro com isso", disse.