Título: Planalto patrocina pacto para aliviar crise entre PT e PMDB
Autor: Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2009, Nacional, p. A9

Após jantar de senadores com Múcio, Tião Viana desiste de atacar Sarney

Vera Rosa e Eugênia Lopes, BRASÍLIA

Depois que o governo entrou em campo para estancar a crise de relacionamento entre o PT e o PMDB, o senador Tião Viana (PT-AC) foi ontem à tribuna e, em vez de partir para o ataque, limitou-se a revelar suas despesas médicas e odontológicas cobertas pelo Senado desde 1999. Ele se antecipou a "denúncias anônimas" de que haveria irregularidades nos gastos.

O gesto de Viana ocorreu menos de 24 horas após um jantar entre o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, e os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Aloizio Mercadante (PT-SP), Romero Jucá (PMDB-RR), Gim Argello (PTB-DF) e Ideli Salvatti (PT-SC), na quarta-feira.

Foi numa cantina italiana que líderes do PT e PMDB selaram a trégua e firmaram um pacto de boa convivência, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ali ficou acertado o cessar-fogo para evitar tiros nos próprios pés e estilhaços no Planalto. "Todos concordaram em esquecer os ressentimentos e apoiar a reforma administrativa que o presidente do Senado, José Sarney, quer fazer", afirmou Múcio, numa referência ao projeto para frear a sucessão de denúncias envolvendo o aparelhamento da Casa.

Viana não compareceu ao jantar porque ainda não fala com Múcio, mas desistiu do tom belicoso contra Sarney e Renan em seu pronunciamento, seguindo orientação do Planalto. Sua atitude foi motivada por acusações: em janeiro, o petista emprestou um telefone celular, que tem a conta quitada pelo Senado, para que sua filha usasse em viagem ao México. O senador disse ter pago a conta, mas não quis revelar o valor. "Não me interessa uma guerra fratricida", insistiu. Na tribuna, ele contou que em dez anos gastou R$ 56.119,73 com saúde e dentista. Só em 2007 foram R$ 40.980.

A crise entre o PT e o PMDB vem se agravando desde a eleição para a presidência do Senado, em fevereiro, quando Sarney venceu Viana. Apesar da trégua estabelecida no jantar de quarta-feira, Lula ainda está preocupado com os desdobramentos do confronto. Na noite de ontem, chamou Múcio em seu gabinete e perguntou-lhe sobre o resultado de sua missão. O ministro disse que a operação havia sido bem-sucedida. "O incêndio foi apagado, mas ainda existem algumas labaredas e precisamos ficar jogando água", resumiu Mercadante. "Não quero incendiar nada", garantiu Viana.

Ao longo da semana, Renan avisou que o PMDB continuaria a mostrar as garras contra Viana, caso o PT não parasse com a guerra contra Sarney. A ala do PMDB ligada a Renan acredita que a onda de denúncias envolvendo o presidente do Senado é alimentada por petistas.

FRASES

José Múcio Monteiro Ministro das Relações Institucionais

"Todos concordaram em esquecer os ressentimentos e apoiar a reforma administrativa que José Sarney quer fazer"

Aloizio Mercadante Líder do PT no Senado

"O incêndio foi apagado, mas ainda existem algumas labaredas e precisamos ficar jogando água"