Título: Rival de Chávez tem prisão solicitada
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2009, Internacional, p. A14

Manuel Rosales, denunciado pelo Ministério Público venezuelano por enriquecimento ilícito, diz que acusação é política

Ruth Costas, CARACAS

O Ministério Público venezuelano entrou ontem na Justiça com pedido de prisão preventiva do prefeito de Maracaibo, Manuel Rosales, o principal líder político da oposição no país. Segundo a promotora Katiuska Plaza, Rosales deve ficar detido enquanto as autoridades investigam denúncias de enriquecimento ilícito contra ele. Um juiz deve decidir se acatará o pedido em até 20 dias.

O líder opositor é acusado de corrupção, evasão fiscal, doação irregular de veículos do Estado e improbidade administrativa durante o período em que foi governador do Estado de Zulia, entre 2000 e 2008. Rosales diz que já apresentou as provas de sua inocência, mas as autoridades nem chegaram a analisá-las. Se for condenado, pode pegar até 10 anos de prisão.

Como boa parte dos juízes costuma decidir alinhada com o presidente Hugo Chávez - reformas legais permitiram a substituição dos que decidiam com autonomia -, são grandes as chances de o pedido de prisão ser aceito.

Indignado, Rosales acusou o presidente de estar por trás da medida. "Essa não é uma ordem da promotoria, mas de Chávez", denunciou. O prefeito enfrentou o presidente nas eleições de 2006, quando obteve cerca de 40% dos votos.

"Eles (os chavistas) querem me calar, me apagar da política, mas vou enfrentá-los mesmo assim", completou. Seu partido, Nuevo Tiempo, também qualificou o pedido de prisão de "vingança eleitoral".

Zulia abriga o principal polo petrolífero da Venezuela. Durante a campanha das eleições regionais de novembro, nas quais concorreu pela Prefeitura de Maracaibo (capital do Estado e a segunda maior cidade do país), Chávez ameaçou prendê-lo e o chamou de "ladrão" e "mafioso". "Estou decidido a meter Rosales na cadeia", afirmou o presidente na época. "Um ladrão como esse não pode ficar livre, nem governar."

MEDIDAS RADICAIS

O pedido de prisão foi feito em um momento de grande tensão na Venezuela. Nos últimos meses, o presidente baixou decretos tirando dos governadores e prefeitos opositores uma série de atribuições (mais informações na página seguinte).

No domingo, amparando-se numa lei aprovada pela Assembleia Nacional, Chávez anunciou a tomada dos três principais portos da Venezuela, que eram controlados por governos estaduais da oposição - incluindo o porto de Maracaibo, fonte de recursos para o governo Rosales.

"Chávez está tomando medidas radicais porque se sentiu fortalecido após vencer o referendo de fevereiro", disse ao Estado Francine Jácome, do Instituto Venezuelano de Estudos Sociais e Políticos, referindo-se à consulta que permitirá ao venezuelano reeleger-se indefinidamente. "Ele quer esvaziar o poder dos opositores e evitar um modelo de gestão alternativo."