Título: Deputado é acusado de fraude
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2009, Nacional, p. A13

Revista revela que Eliseu Padilha (PMDB-RS) é investigado em inquérito sigiloso no STF

Carlos Rollsing, PORTO ALEGRE

A última edição da revista IstoÉ traz denúncias contra o ex-ministro dos Transportes e deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), que supostamente praticou tráfico de influência e fraude em licitações de obras de infraestrutura que interessariam a MAC Engenharia. O inquérito tramita em segredo de justiça no Supremo Tribunal Federal.

A publicação teve acesso aos relatórios da Polícia Federal que revelariam o depósito de R$ 267 mil pela empresa na conta da Fonte Consultoria Empresarial, da qual Padilha e sua esposa Maria Emília são sócios. O também deputado José Otávio Germano (PP-RS) é citado como suposto fornecedor de informações privilegiadas em favor da MAC Engenharia.

A PF teria chegado aos nomes dos dois parlamentares através da Operação Solidária, em 2007, que apontou irregularidades em contratos de merenda escolar em municípios gaúchos e fraude de até R$ 300 milhões em obras públicas. A IstoÉ revelou escutas que retratariam conversas entre Padilha e Marco Antonio Camino, proprietário da MAC Engenharia. No suposto diálogo, Camino teria dito: "Aquele assunto que nós tratamos na terça-feira vai ser viabilizado 100, tá?". A PF teria descoberto que o grupo montara esquema para desviar verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com informações privilegiadas do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Atualmente, a MAC Engenharia trabalha na duplicação de trechos gaúchos da BR-101. Leodegard da Cunha Tiscoski, secretário nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, teria sido citado no relatório como responsável por passar informações sigilosas aos políticos.

Padilha afirmou que jamais manteve negócio com a empresa MAC Engenharia, apesar de conhecer Camino há 20 anos. Ele diz que o depósito de R$ 267 mil refere-se ao serviço prestado a Magna Engenharia. "Tenho notas fiscais e comprovantes da licitude da prestação de serviço." Sobre o tráfico de influência, ele disse que não existem condições para tal manobra, porque as licitações e obras são discutidas em conjunto por toda a bancada gaúcha na Câmara. Ele atribuiu a reportagem a interesses eleitorais em 2010.

Germano afirmou que nunca negociou com a MAC Engenharia. Ele confirma que foi procurado por Camino quando presidia a Comissão de Minas e Energia, mas diz que abordou assuntos sobre outra empresa, esta do setor energético, também de propriedade de Camino.