Título: Pressionado pelo governo dos EUA, presidente da GM renuncia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2009, Economia, p. B1

Rick Wagoner deixa o cargo um dia antes de a administração Obama anunciar novo plano de ajuda ao setor

WASHINGTON

O presidente executivo e do Conselho de Administração da General Motors (GM), Rick Wagoner, deixará o cargo. A informação, não confirmada pela companhia, foi ontem inicialmente divulgada pela Associated Press e depois pelos sites dos principais jornais americanos. A saída de Wagoner coincide com o anúncio, previsto para hoje, de novo plano de ajuda do governo dos Estados Unidos à indústria automobilística.

Um porta-voz da Casa Branca, que não quis ser identificado, disse que a renúncia foi uma imposição do governo Obama para liberar mais dinheiro, confirmando reportagem do Wall Street Journal. "(Barack) Obama e outras autoridades disseram que vão exigir uma reestruturação mais profunda na GM e na Chrysler antes de anunciar mais empréstimos governamentais", afirmou o jornal.

Durante o dia, em uma entrevista à rede de TV CBS, Obama já havia indicado estar descontente com o andamento das negociações com o setor. "Elas (as empresas) ainda não estão prontas (para receber a ajuda)", afirmou.

A GM e a Chrysler, que empregam cerca de 140 mil pessoas nos Estados Unidos, já receberam juntas, na gestão do presidente George W. Bush, em dezembro de 2008, US$ 17,4 bilhões em empréstimos para sobreviver à crise econômica e ao pior declínio nas vendas de automóveis em 27 anos. A GM que recebeu um alento de US 13,4 bilhões busca agora mais US$ 16,6 bilhões, do governo de Obama, enquanto a Chrysler quer outros US$ 5 bilhões.

Desde 2005, a GM acumula prejuízo de US$ 82 bilhões. Só em 2007, a montadora amargou perdas de US$ 43,3 bilhões. Em 2008, foram mais US$ 30,9 bilhões no vermelho. Esses foram os dois maiores prejuízos da história da empresa.

O governo americano condiciona o novo resgate a "medidas drásticas e dolorosas", como classificou Obama. A GM propôs o fechamento de cinco fábricas nos EUA e o corte de 47 mil funcionários. Este mês, a companhia anunciou a adesão de 7,5 mil funcionários a seu plano de demissões voluntárias. A maioria deixará a empresa até o dia 1º de abril.

Membros da força-tarefa montada pelo governo para discutir o problema têm dito que a falência ainda poderia ser uma opção para a GM e a Chrysler, caso sua direção, trabalhadores, credores e acionistas não assumam sacrifícios.

Sexta-feira, Wagoner havia se encontrado com membros da força-tarefa. O presidente executivo da Chrysler, Robert Nardelli, se reuniu com o grupo no início da semana.

O plano da equipe de Obama pretende acelerar os esforços de ajuste. Ambas estão tentando reduzir a dívida em dois terços e convencer o sindicato de trabalhadores da categoria (UAW, na sigla em inglês) a aceitar ações em troca de metade dos pagamentos. O acordo também pede um corte nos salários dos executivos e nos custos trabalhistas, em razão da concorrência com as montadoras japonesas que têm filiais nos EUA.

PEUGEOT CITROËN

O Conselho da montadora francesa PSA Peugeot Citroën anunciou ontem a substituição de Christian Streiff, presidente executivo da empresa, por Philippe Varin. Ele assumirá o cargo em 1º de junho. Um comunicado informou que a decisão foi tomada por unanimidade e com base nas "dificuldades excepcionais que a indústria automobilística enfrenta". Por isso, segundo o texto, se tornou necessária "uma mudança de gestão na cabeça do grupo".

Streiff, de 54 anos e ex-presidente da fabricante de aviões Airbus, assumiu a PSA Peugeot Citroën em fevereiro de 2007, no lugar de Jean-Martin Folz.

AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

REPERCUSSÃO

Peter Morici Professor da Universidade de Maryland

" Parece que o governo Obama está oferecendo Rick Wagoner em sacrifício. Eles estão a ponto de sacrificar qualquer um que apareça para pedir dinheiro. A população está cansada disso e, em vez de jogarem um banqueiro para os lobos, eles decidiram jogar Wagoner para os lobos."

Rob Kleinbaum Diretor-gerente da RAK & CO

"Se isso é apenas uma espécie de ritual de sacrifício, onde nada mais muda, realmente não vai significar nada."

David Cole Presidente do Centro de Pesquisa Automotiva

"Eu sei que ele (Rick Wagoner) faria o que fosse melhor para a companhia. Eu não ficaria surpreso quando, nesse tipo de situação, alguém tem de cair pelo golpe da espada para provar que estava fazendo a coisa certa."

Aaron Bragman Analista da IHS Global Insight

"Parece para mim a decisão politicamente oportuna a ser tomada. Pode ajudá-los a conseguir mais dinheiro do Congresso que está relutante em concedê-lo. (Barack) Obama e (Timothy) Geithner podem chegar ao Congresso e dizer ?vocês pediaram a eles que fizessem um último sacrifício? e agora eles precisam de mais dinheiro."

Jeremy Anwyl Diretor executivo da Edmunds.com, website de carros

"Os problemas da GM têm raízes profundas, datam dos anos 80, por isso são tão difíceis de serem sanados. Rick (Wagoner) somente herdou a bagunça."