Título: Assessor de Mão Santa também cai no grampo da PF
Autor: Godoy, Marcelo; Almeida, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2009, Nacional, p. A4

Gravação mostra funcionário cobrando doação de representante da Fiesp

Marcelo Godoy, Roberto Almeida e Fausto Macedo

Grampos da Castelo de Areia, operação integrada da Polícia Federal com a Procuradoria da República, atingiram também o gabinete do senador Mão Santa (PMDB-PI).

Mão Santa não foi interceptado pela PF. Mas, em uma conversa gravada, Luiz Henrique Bezerra, emissário em Brasília da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), foi cobrado sobre um depósito por Doca Lustosa, assessor do senador do PMDB.

Luiz Henrique é filho de Valmir Campelo, ministro do Tribunal de Contas da União, e, segundo a PF, seria elo entre a empreiteira Camargo Corrêa e suposto esquema de doações eleitorais "por fora".

O peemedebista é o terceiro senador citado no inquérito aberto para investigar licitações fraudulentas, superfaturamento de obras públicas e lavagem de dinheiro, e que avançou para o plano eleitoral. Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e Agripino Maia (DEM-RN) foram os primeiros senadores mencionados como beneficiários de doações. Eles negaram envolvimento com irregularidades e apresentaram recibos para comprovar a legalidade das contribuições eleitorais.

Outras pessoas não ligadas diretamente à investigação também tiveram conversas gravadas e destacadas em relatório da PF, como o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro Brandão, conforme o Estado revelou ontem.

Relatório de Inteligência da PF destaca um capítulo para o episódio do assessor de Mão Santa. A PF avalia que a cobrança a Luiz Henrique, grampeada, tratava possivelmente de doação ilegal de campanha da Camargo Corrêa. As suspeitas têm como base diálogo entre Doca e Luiz Henrique na manhã de 1º de outubro, perto das eleições municipais.

Doca pede que lhe seja enviado comprovante do depósito via e-mail. Soletra seu endereço eletrônico do Senado. Mas lembra que "é melhor" que o comprovante seja enviado para seu endereço pessoal. A PF analisa: "Chama a atenção no diálogo que Doca quer passar seu e-mail institucional do Senado para Luiz transmitir o comprovante do depósito. Porém Luiz recomenda que passe outro e-mail, aparentemente dando a impressão que tal depósito não foi feito às claras."

O responsável pelos depósitos, segundo a PF, era Fernando Dias Gomes, da Camargo Corrêa. A PF acentua que o dinheiro saiu da empreiteira e o destino possivelmente era de interesse do filho do senador, Júnior Mão Santa.

O delegado cita dois assessores de Mão Santa como interlocutores de Luiz Henrique. "A primeira pessoa se identificou como ?Doca? e disse já ter sido cobrado pelo ?filho do senador? sobre o que se presume ser um dos depósitos." O outro é identificado como Itamar. Com as explicações de Luiz Henrique sobre o depósito, Doca agradece: "É que a gente fica aflito com essas coisas". O representante da Fiesp responde: "Não, eu sei como é que é."

TSE

Júnior Mão Santa, suposto beneficiário do depósito, não concorreu à prefeitura de sua cidade, Parnaíba (PI). Quem concorreu foi a mulher do senador, Adalgisa Carvalho (PMDB), cuja campanha amealhou R$ 397 mil em doações. Ela não se elegeu. Não constam da base de dados do Tribunal Superior Eleitoral valores recebidos da Camargo Corrêa ou de diretórios do partido.

Maria das Graças Nunes, filha do senador e corresponsável pela campanha de Adalgisa, avisou que a suspeita da PF "não tem a menor lógica". "É campanha pobre, pobre. Todo mundo andava a pé embaixo do sol quente." Mão Santa não respondeu aos diversos recados deixados com sua filha e assessores.