Título: Fundo corta 10% dos recursos para remédios
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2009, Vida&, p. A13

Crise provoca redução de novos projetos de países pobres para aids, malária e tuberculose

Jamil Chade

A crise econômica internacional chegou à saúde. O Fundo Global, criado há seis anos para financiar no mundo a luta contra aids, tuberculose e malária, circulou comunicado pedindo que novos projetos de países pobres tenham orçamentos reduzidos em 10% para a compra de remédios. A ordem, segundo o Estado apurou, veio dos países ricos, principais responsáveis pelo financiamento.

Paulo Teixeira, vice-presidente do Comitê de Política e Estratégia do Fundo, diz que países latino-americanos já reclamaram do corte. "Protestamos", afirmou Teixeira, que foi o diretor do programa de combate à aids no Brasil.

Segundo um analista do Fundo, "a cada projeto de países pobres pedindo recursos, somos obrigados a informá-los de que precisam reduzir em 10%".

O orçamento total para este ano será divulgado no próximo dia 31 de março, após reunião na Espanha. Em números absolutos, o Fundo terá crescimento em relação a 2008 para atender um número maior de pedidos de financiamento. Mas o ritmo de expansão deve ser menor e, para cada projeto, o volume total de recursos será reduzido. A entidade, considerada a maior financiadora de projetos contra as três doenças, direcionou US$ 15 bilhões para governos e organizações não-governamentais. Cerca de 2 milhões de pessoas recebem coquetéis antirretrovirais, destinados a pacientes com aids, e 4,6 milhões são tratados contra tuberculose com essa verba.

Na semana passada, o Congresso americano garantiu US$ 900 milhões para o Fundo em 2009, US$ 60 milhões a mais que em 2008.

"Os Estados Unidos são líderes na luta contra doenças infecciosas", afirmou Michel Kazatchkine, diretor executivo do Fundo Global em comunicado. Para ele, a elevação do dinheiro "manda um sinal de que o financiamento é importante em um momento de crise". Mas funcionários do Fundo alertam que a realidade não é exatamente a descrita no comunicado.

Em 2004, foram distribuídos US$ 700 milhões para combater a aids. Em 2007, o valor chegou a US$ 3 bilhões. Para tuberculose, os recursos atingiram US$ 1,6 bilhão em 2007.

CRISE

Nos bastidores da Organização Mundial da Saúde (OMS), a crise econômica também faz parte de todas as reuniões. O esforço da entidade é de que os recursos sejam pelo menos mantidos neste ano.

"A crise vem em um momento frágil para a saúde pública", disse Margaret Chan, diretora-geral da OMS. Para ela, os programas de ajuda já estão sobrecarregados e sofrendo com a falta de financiamento.

O tema entrará na agenda da Assembleia Mundial da Saúde, prevista para maio.