Título: Preconceito é inimigo da diplomacia, diz embaixador
Autor: Venceslau, Pedro
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2009, Nacional, p. A9

Arnaldo Carrilho - Diplomata; Carrilho vai para Coreia do Norte de olho em exportação e mão de obra barata, mas evita falar de ditadura

Pedro Venceslau

O diplomata Arnaldo Carrilho será o primeiro embaixador brasileiro - e sul-americano - residente na Coreia do Norte. Funcionário de carreira do Itamaraty, serviu durante dez anos em postos na Ásia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já abriu 30 novas embaixadas, a maioria na África. Em 2009, serão cinco, quatro no Caribe e uma na Ásia. Para o Estado, Carrilho falou sobre as oportunidades comerciais que levaram o governo a abrir uma embaixada em um dos países mais fechados do planeta.

Por que o Brasil precisa de uma embaixada na Coreia do Norte?

Nós temos muito o que vender para Coreia do Norte, como carne suína e frango.

E o que a Coreia do Norte tem para oferecer ao Brasil?

É a segunda maior produtora do planeta de magnesita, mineral que o Brasil importa. E tem a mão de obra barata. Um operário norte-coreano da construção civil custa US$ 30 mensais.

O sr. não fica apreensivo de se mudar para país tão fechado?

Eu tenho alguma vida interior (risos). Tenho mais de 5 mil livros e muitos DVDs.

Como diplomata de carreira, como o sr. avalia a política diplomática do governo Lula?

Existem colegas que são ligados a dirigentes do DEM e PSDB que estão em posição de destaque no governo Lula. E atualmente não temos nenhum político como embaixador. O último foi em Lisboa (Paes de Andrade).

A Coreia do Norte é um parceiro comercial importante?

Em 2008 foram US$ 380 milhões (fluxo comercial). A Sadia, por exemplo, tem interesse brutal na minha chegada em Pyongyang. Querem exportar carne suína e frangos.

Acha que o país representa ameaça nuclear aos EUA?

Não está provado que os mísseis da Coreia do Norte podem percorrer distâncias tão grandes a ponto de chegar ao Alaska. O Brasil não tomou posição em relação a isso.

O que o sr. conhece o ditador Kim Jong-il?

Sei que chegando lá vou ouvir inúmeros boatos e opiniões dos colegas, mas isso faz parte. O preconceito é inimigo da diplomacia.

Vai levar algum presente para o ditador?

Ele é cinéfilo, então vou levar uma caixa de filmes do Glauber Rocha e outros meio de esquerda, tipo Nelson Pereira do Santos.