Título: Não tem chororô, vamos gastar cada centavo
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2009, Economia, p. B6

Lula diz que chamou Gabrielli, que queria adiar investimentos do PAC, e determinou gastos

Adriana Chiarini, LINHARES (ES)

Diante de uma plateia de cerca de 500 pessoas, entre trabalhadores da Petrobrás e convidados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez ontem em Linhares, no Espírito Santo, a revelação de uma estratégia que a estatal mantinha sigilosa: a diretoria da empresa cogitou adiar em até oito anos parte dos investimentos de US$ 174,4 bilhões previstos para o período de 2009 a 2013. As obras capitaneadas pela estatal encabeçam a lista do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.

"A Petrobrás, por cuidado, estava pensando em não fazer todas as obras do PAC. Chamamos o companheiro (José Sérgio Gabrielli, presidente da estatal) e dissemos: não tem chororô, meu filho. Não vamos deixar para 2017. Vamos gastar cada centavo que pudermos gastar. Vamos investir para dinamizar a economia brasileira", discursou Lula no palanque montado para a inauguração da segunda fase da Unidade de Tratamento de Gás de Cacimbas.

A seu lado, Gabrielli e os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Edison Lobão (Minas e Energia).

Gabrielli limitou-se a comentar, em seu pronunciamento, que investindo a Petrobrás está preparada para o cenário pós-crise. "Com a crise internacional, que não é nossa; com a crise de financiamento, que não é nossa, temos de olhar para o futuro e fazer os investimentos necessários para estarmos preparados ao sairmos da crise."

Bem-humorado, pontuando de tiradas engraçadas seu discurso, Lula ora arrancava aplausos, ora risadas. Disse preferir errar pela ousadia de decidir do que errar por omissão. "Nessa crise vamos fazer diferente de outras crises. Não se governa nem uma casa nem um País com medo."

Ao comentar que participará, no Dia do Trabalho, da solenidade que marcará a retirada do primeiro barril de petróleo de Tupi, o megacampo descoberto na camada pré-sal da Bacia de Santos, ele brincou: "Vamos tirar os primeiros barris de petróleo a seis mil metros de profundidade. Mais um pouquinho e a gente traz um japonês junto". E arrematou prometendo dar, na ocasião, "um banho de petróleo no presidente da Petrobrás".

O campo de Tupi ainda se encontra em fase de testes para comprovar sua viabilidade comercial e o barril extraído em maio será o primeiro da fase do Teste de Longa Duração (TLD) que se estenderá por um ano.

A inconfidência do presidente sobre as discussões do planejamento estratégico da Petrobrás não abalaram o mercado nem repercutiram na cotação dos papéis da estatal. Analistas financeiros disseram ao Estado que a ingerência do governo em negócios da Petrobrás "já está precificada", jargão com o qual é identificado a absorção do risco das ações.

No caso do plano estratégico, a primeira impressão do mercado foi de que a companhia estaria mesmo divulgando uma cifra alta para agradar ao governo, mas que alguns investimentos, principalmente as refinarias, poderiam ser adiados. O orçamento é maior, por exemplo, do que o proposto pela americana ExxonMobil, maior petroleira de capital aberta do mundo, que anunciou anteontem investimentos de US$ 150 bilhões nos próximos cinco anos.

COLABORARAM KELLY LIMA e NICOPA PAMPLONA

FRASE Luiz Inácio Lula da Silva Presidente

"Vamos tirar os primeiros barris de petróleo a seis mil metros de profundidade. Mais um pouquinho e a gente traz um japonês junto"