Título: Menos tensão no segundo dia de protestos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2009, Economia, p. B6

Manifestantes homenagearam inglês que morreu na quarta-feira

Flavia Guerra, LONDRES

Pelo segundo dia consecutivo, manifestantes percorreram a City London (centro financeiro da cidade) em protestos que pediam uma nova ordem mundial. A Scotland Yard se armou para enfrentar mais uma jornada que prometia ser agitada como no dia anterior.

Mas, se no dia anterior até mesmo uma morte havia sido registrada, ontem o dia foi de (quase) tranquilidade. "Está tudo calmo. Acho que os anarquistas não são de acordar cedo", ironizou um policial ao chegar, por volta das oito da manhã em frente à estação de Bank, que permaneceu fechada até o início da noite.

Em torno de 450 manifestantes rodearam o Banco da Inglaterra. No Excel Centre, local escolhido para o encontro do G-20, cerca de 500 pessoas gritavam palavras de ordem como "Quero meu dinheiro de volta!".

"Não sei o que eles querem, mas acho que ninguém vai conseguir nada. Nem os governantes e nem os manifestantes", dizia o desapontado Bash Hashid. "Trabalho há anos no UBS e pude ver todo o movimento na City. Amanhã é meu último dia de trabalho. Pedi demissão em outubro. E me pergunto: ?De que lado estou?? Agora eu sou um dos odiados ?bankers? ou sou mais um dos excluídos do sistema?", bradava ele enquanto conversava com o Estado.

Quem sabe a família de Ian Tomlinson também não tenha o que ensinar. Ele foi o homem que morreu ontem, durante as manifestações. Tinha 47 anos e voltava do trabalho quando parou para ver os manifestantes na rua Cornhill e teve um ataque cardíaco e morreu. "Vamos todos sentir muito sua falta", divulgou a família, que espera o relatório sobre a causa da morte e aguarda as investigações já abertas para manifestar-se sobre o ocorrido.

Cerca de mil pessoas que se reuniram no início da tarde de ontem no local da morte de Tomlinson. A polícia metropolitana não concordou e prendeu mais uma leva de manifestantes.

Segundo o comandante Simon O""Brien, que falou oficialmente pela Met (a Polícia Metropolitana), foram cerca de 120 prisões, a maioria por vandalismo, nos dois dias de protestos.

Ontem, enquanto a cidade já recuperava o ritmo e a estação de Bank era reaberta, o que se via nas paredes eram frases como "os governantes mentem. Os bancos roubam. Os ricos riem.""

Até cerca de 20 horas, o movimento em frente ao Excel era de expectativa, mas também de calmaria. Impedidos de passar pelos muitos check-points (as barricadas) da policias, que isolaram o Excel, os manifestantes continuavam a cantoria e prometiam que, mesmo em minoria, não iriam se calar.

FRASES

Bash Hashid Funcionário do Banco UBS

"Amanhã é meu último dia de trabalho. Pedi demissão em outubro. E me pergunto: ?de que lado estou?? Agora eu sou um dos odiados ?bankers? ou sou mais um dos excluídos do sistema?"

Pichação nas paredes da estação de trem de Bank

"Os governantes mentem. Os bancos roubam. Os ricos riem"