Título: O esforço de Sarkozy para se aproximar de Obama
Autor: Lapouge, Gilles
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2009, Economia, p. B5

O G-20 permitiu ver que o novo "casal" Sarkozy/Angela Merkel vem se dando muito bem. Em vez de brigarem como cão e gato, o que ocorria há seis meses, o francês e a alemã formaram uma frente para impor ao G-20 um plano de moralização do sistema financeiro mundial.

No entanto, Angela Merkel saiu um pouco à frente de Sarkozy na "corte" que todos os chefes de Estado fizeram ontem ao maravilhoso Obama. No jantar em Downing Street, quem estava ao lado de Obama? Angela Merkel, felizarda! Mas Sarkozy não poupa esforços. Há três meses vem tentando estreitar relações com o americano, mas as coisas não avançam muito rápido. Tentou tudo.

No dia da vitória de Obama, bateu todos os rivais. Enviou felicitações ao novo presidente uma hora antes de Gordon Brown e duas antes de Merkel (ele esqueceu do "c" de Barack, mas não foi nada grave).

Decidido a encontrar o americano antes dos outros, Sarkozy mandou preparar o avião para voar a Chicago em novembro. Mas Obama estava com a cabeça em outro lugar. O britânico Brown foi mais esperto. Foi recebido na Casa Branca. É verdade que americanos e ingleses têm uma relação especial.

Após longas e dolorosas semanas de espera, um consolo. Há dez dias o jornal Figaro mostrou na capa uma enorme fotografia com Sarkozy e Obama, conversando. Muito estranho! Mais tarde ficou-se sabendo que era uma montagem para dar a conhecer ao povo francês que os dois chefes tinham conversado por telefone. De fato, houve o diálogo. Bela proeza!

Sarkozy achava que a viagem de Obama à Europa permitiria que os dois tivessem um encontro a sós. Mas, no âmbito do G-20, seria difícil. Falta de tempo. Além disso, 19 outros chefes de Estado estariam disputando o americano, e uma reunião à parte não seria possível.

Sarkozy imaginou outro cenário. Convidou Obama para uma viagem às praias da Normandia, local de desembarque dos americanos em 1944. Uma peregrinação que os presidentes americanos gostam de fazer.Mas Obama não vai ter tempo. Bom, fica para uma outra vez.

Mas por que Obama não tem tempo? Tem ao seu alcance outros grandes chefes de Estado, no G-20: o indiano, o brasileiro, o russo, o chinês. Aliás, ontem mesmo disse que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, é "o cara".

Portanto, até que poderia ir à Normandia com Sarkozy. Mas não. Obama tem outra coisa de urgente para fazer. Pretende ir a Praga. Praga? Sim, a capital da República Checa, um país sem governo, e, além do mais, um país "eurocético".

E não é tudo. No fim do seu périplo, Obama reservou dois dias para a Turquia, país que tem um quinto do seu território dentro da Europa, os outros 4/5 na Ásia. E um país governado por "islâmicos moderados".

Esse americano é desconcertante. Claro que, refletindo mais, a Turquia pode ser uma preciosa intermediária entre os diferentes Estados que, há 50 anos, lutam até a morte no Oriente Médio.

Diante de tudo isso, o que se diz é que Sarkozy não conseguiu forçar a porta nem o coração de Obama. Isso não porque Obama não goste do presidente francês ou das suas bravatas. Talvez seja, simplesmente, porque, no momento, a Europa não é o problema número 1 do mundo. Nos seus discursos, Obama não pronunciou a palavra "Europa". E, da mesma maneira que não vai à Normandia, também não terá tempo de ir a Berlim.

Devemos concluir que ele não aprecia muito a Europa, que prefere Medvedev ou Hu Jintao a Sarkozy ou Merkel? Absolutamente. É possível que todas essas hipóteses sejam só invenção ou fantasmas de jornalistas sem inspiração.

*Gilles Lapouge é correspondente em Paris