Título: Proposta é recebida com reservas por empresários
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2009, Economia, p. B3

A proposta do governo de financiar a importação de produtos argentinos, numa tentativa de abrandar o protecionismo adotado pelo país vizinho, foi recebida com reservas por empresários de setores afetados pelas restrições impostas ao produto brasileiro. Para Milton Cardoso, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), antes de fechar algum acordo com o parceiro do Mercosul, o governo precisa exigir contrapartidas da Argentina.

"Se o governo puder ajudá-los com financiamento, que é uma coisa escassa hoje em dia, no mínimo isso deveria ser condicionada a um afrouxamento das restrições (impostas pelos argentinos) e a um compromisso de que essas restrições não levem, como têm levado, a um desvio de comércio para outros países, principalmente asiáticos", afirmou Cardoso.

O presidente da Abicalçados argumentou que, para reduzir as tensões com a Argentina, há quatro anos a entidade estabeleceu acordo com um volume anual de exportação de até 18 milhões de pares de calçados brasileiros. O acordo tinha implícito uma defesa contra o desvio de comércio. Previa que as importações argentinas deveriam ser compostas por 75% de calçados brasileiros e 25% de outras origens. "Hoje, já estamos quase no meio a meio", reclamou.

MERCADO INCOMUM

A carne suína é o 52º item da pauta de exportação brasileira para a Argentina, com 0,33% de participação no volume total. Ao todo, os embarques somaram US$ 57,8 milhões em 2008. Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), considerou "no mínimo estranho, uma invenção", o fato de o Brasil avaliar a possibilidade de socorrer financeiramente os exportadores argentinos. "O Mercosul pode ser um sucesso político, mas não é o que se vê na economia. Onde já se viu um mercado comum que não é mercado comum", critica.

O presidente da Abipecs lembra que os argentinos costumam ter rapidez no comércio internacional quando se sentem ameaçados, como o que se viu quando o governo brasileiro tentou emplacar a licença prévia de importação no mês passado. "A medida durou um dia, mas eles foram rápido na mobilização".

O empresário Fuad Mattar, presidente da Paramount Lansul, uma das principais indústrias do setor têxtil brasileiro, que exporta seus produtos para a Argentina há mais de 20 anos, acha que deveriam prevalecer as regras do Mercosul. "Em vez de medidas artificiais, deveria se cumprir as regras do Mercosul, que já tem 20 anos e bem ou mal vem andando".

Mattar argumentou que, além das regras que devem ser obedecidas, existem negociadores competentes de ambos os lados para que se chegue a um bom termo nesse tipo de disputa.