Título: Ibama autoriza obras de Angra 3
Autor: Goy, Leonardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2009, Economia, p. B7

Instituto sinaliza também que pode ser mais flexível em relação à solução para os resíduos nucleares

Leonardo Goy

A usina nuclear de Angra 3 deverá, enfim, começar a ser construída. A estatal Eletronuclear, responsável pelo projeto, recebeu ontem do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) a licença de instalação definitiva, que permite o início das obras, em Angra dos Reis (RJ).

Além de liberar a licença, o Ibama também sinaliza que pode ser mais flexível com relação à exigência, na entrega da obra, de uma solução "definitiva" para os resíduos nucleares.

A Eletronuclear já vinha realizando os trabalhos iniciais do canteiro de obras desde setembro do ano passado, quando o Ibama liberou uma licença parcial para a preparação do terreno. A licença de ontem autoriza o início das obras da usina propriamente dita. Agora, a Eletronuclear precisa apenas da licença de construção da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEM) para tirar o projeto do papel.

Quando estiver concluída, Angra 3 terá capacidade para gerar 1.350 megawatts (MW). O governo estima que investirá R$ 7,3 bilhões na obra.

O documento do Ibama contém 44 exigências a serem cumpridas pela Eletronuclear. Entre essas condições está a da construção de um novo depósito para armazenar os resíduos nucleares que serão produzidos pela usina. Mas tanto os termos do documento quanto o discurso do presidente do Ibama, Roberto Messias, mostram maior flexibilidade em relação à licença prévia liberada em julho do ano passado. Se naquela época falava-se em uma solução "definitiva" para os rejeitos, o documento de ontem fala em depósitos de "longo prazo".

Messias explicou que o Ibama mantém a exigência da solução definitiva, mas disse que, dependendo do andamento da busca por tecnologias para reutilização dos resíduos, o Ibama poderá aceitar uma solução que não torne o lixo inacessível. Ou seja, que possibilite que ele seja reutilizado no futuro.

Na época da licença prévia, chegou-se a comentar que poderiam ser feitos depósitos subterrâneos em cavernas profundas. Messias ponderou, entretanto, que esse tipo de solução, que tornaria o resíduo inacessível, não seria interessante no caso de uma eventual reutilização do material.

Messias lembrou ainda que a solução para os resíduos deverá ser apresentada apenas daqui a cinco anos, quando a obra estiver prestes a ser concluída e a Eletronuclear solicitar ao Ibama a licença para iniciar a operação da usina. "Nesses cinco anos, deveremos ter uma avaliação mais clara sobre o que é uma solução de longo prazo e o que é uma solução definitiva", disse.

O Ibama exigiu, entretanto, que a Eletronuclear apresente, em até seis meses, o cronograma de execução do depósito de longo prazo para os combustíveis.