Título: Lucro do HSBC cai 70% e banco anuncia oferta de ações de US$ 17 bi
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2009, Economia, p. B3

HSBC decide fechar unidade de financiamento ao consumidor nos EUA e demitir 6 mil empregados, depois de perder US$ 15,5 bilhões no país

Daniela Milanese

O prejuízo do banco inglês HSBC nos Estados Unidos pesou mais forte e, desta vez, os negócios nos mercados emergentes não conseguiram impedir a queda dos resultados do grupo. Se em 2007 o maior banco europeu teve lucro recorde puxado pelos países em desenvolvimento, em 2008 o lucro líquido, de US$ 5,7 bilhões, caiu 70%.

Ainda ontem a instituição anunciou uma emissão de ações de US$ 17,7 bilhões para reforçar o capital, com desconto de 47,5% sobre a cotação de sexta-feira, injetando mais aversão a risco nos mercados. As informações do HSBC foram decisivas para a queda de 5,33% do Índice FTSE-100, o mais importante da Bolsa de Londres. O indicador atingiu ontem o menor nível desde 31 de março de 2003.

A operação nos EUA foi a grande responsável pela piora dos números, pois sozinha provocou resultado negativo de US$ 15,5 bilhões. "Gostaríamos de não ter feito este negócio, mas estamos onde estamos", disse o presidente do HSBC, Michael Geoghegan, referindo-se à compra da americana Household, da área de crédito imobiliário, em 2003.

Tanto que o grupo decidiu fechar as operações de crédito ao consumo nos EUA e demitir 6,1 mil funcionários. Antes de decidir encerrar os negócios, a instituição analisou outras opções, mas não viu interessados em ficar com as transações. No início do ano passado, os executivos negavam categoricamente que sairiam dos EUA.

"O mundo mudou radicalmente nos últimos seis meses. Houve forte deterioração, resultando na pior recessão desde o período das guerras", disse o presidente do conselho de administração do HSBC, Stephen Green. A jornalistas brasileiros, ele disse que ainda não vê um fim para a crise.

Mesmo com a queda no lucro, os executivos consideraram os resultados "resistentes", em razão da atuação nos mercados emergentes. "O mérito recai sobre a diversificação dos nossos negócios", disse Geoghegan, ao lembrar que todas as regiões foram lucrativas, exceto a América do Norte. Hoje os emergentes respondem por dois terços do resultado do grupo, acima dos 50% de 2006.

No resultado de 2008, a América Latina elevou a participação para 21% do lucro do grupo antes dos impostos, ante 9% em 2007. Mas esse desempenho deve-se ao prejuízo nos EUA, porque o resultado da região caiu de US$ 2,1 bilhões em 2007 para US$ 2 bilhões no ano passado, antes dos impostos e pelas regras internacionais.

"Eu não estaria revelando nenhum segredo se dissesse que a compra de ativos na América Latina é naturalmente interessante", disse Green. Ele não quis comentar a possibilidade de aquisição de ativos do Citigroup no Brasil, mas disse que o aumento de capital de US$ 17,7 bilhões servirá para fortalecer o banco e deixá-lo preparado para oportunidades.

Green ressaltou que aquisições só serão feitas se estiverem de acordo com a estratégia da instituição, que é crescer nos mercados emergentes, de maior potencial.

Segundo os executivos, o HSBC tem recebido depósitos de clientes de outros bancos. "O ano de 2009 será outro ano desafiador, mas estamos nos fortalecendo", disse Green.