Título: AIG perde US$ 61,7 bi e é resgatada de novo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2009, Economia, p. B3

Tesouro americano vai injetar mais US$ 30 bi na companhia

Após a seguradora American International Group (AIG) ter anunciado perdas de US$ 61,7 bilhões no quarto trimestre de 2008 - a maior da história dentro de um período de três meses -, o governo americano decidiu injetar mais US$ 30 bilhões na empresa. Essa é a quarta vez em seis meses que o Tesouro americano libera recursos para tentar tirar a companhia do buraco. O resgate se soma aos US$ 150 bilhões que já saíram dos cofres públicos para ajudar a empresa. O governo do presidente Barack Obama já controla 80% da AIG.

A companhia admitiu ontem que, só no quarto trimestre de 2008, perdeu US$ 650 milhões por dia, mais de US$ 7.500 por segundo. Cerca de 76 milhões de clientes em 130 países foram afetados. As perdas se deram em grande parte por causa da sua atividade seguradora de instrumentos financeiros, especialmente os relacionados com os créditos hipotecários de alto risco que ajudaram a desencadear a atual crise internacional.

O governo diz ter consciência de que, pela importância que a empresa possui na economia americana, não pode deixá-la afundar, como fez com o Lehman Brothers em setembro do ano passado. "Dado o perigo sistêmico que a AIG continua representando, e a atual fragilidade dos mercados, o custo potencial para a economia e para os contribuintes da falta de intervenção do Governo seria extremamente elevado", admitiram hoje o Federal Reserve (Fed, banco central americano) e o Departamento do Tesouro em nota conjunta.

A Casa Branca disse por meio de seu porta-voz, Robert Gibbs, que o resgate era necessário para evitar que a seguradora se tornasse uma ameaça ao sistema financeiro. "As ações de hoje (ontem) foram cruciais."

O presidente e executivo-chefe da AIG, Edward Liddy, afirmou que a seguradora conseguirá devolver o dinheiro público recebido e que os novos US$ 30 bilhões são um "colchão de reserva" que a empresa "não tem por que usar necessariamente de forma imediata".

Ele acrescentou que as pessoas que possuem seguros da companhia "estão salvas, protegidas", porque "os problemas estão nos negócios secundários", não na área de seguros tradicionais, que, mesmo assim, foi afetada pela crise.

O novo plano de resgate inclui um corte da taxa de juros que o Fed aplica a uma linha de crédito de US$ 25 bilhões concedida à AIG, o que fará com que a seguradora economize US$ 1 bilhão ao ano. O projeto abrange também a concessão de novas ações preferenciais em duas divisões de seguros de vida da AIG para liquidar uma dívida de US$ 38 bilhões.

O Fed já havia emprestado, em setembro, à AIG um total de US$ 85 bilhões. Em outubro, forneceu mais US$ 38 bilhões e, no mês seguinte, elevou a ajuda para US$ 150 bilhões. Do total já injetado na AIG, US$ 60 bilhões foram para créditos, US$ 40 bilhões para ações preferenciais e US$ 50 bilhões para ativos incobráveis.

Por volta da metade do pregão de ontem, os títulos da AIG subiam cerca de 14% em Nova York, o que evidencia que os investidores mostraram confiança no novo plano. Mas o Fed e o Tesouro acreditam que a estabilidade não virá imediatamente. "Vai levar tempo e possivelmente vai requerer mais apoio público se os mercados não se estabilizarem e melhorarem", disseram em comunicado conjunto.

As perdas trimestrais, as quintas consecutivas, são mais que o dobro dos US$ 30 bilhões a mais que Washington ofereceu à AIG como parte do novo resgate negociado neste fim de semana. A empresa, que já foi a maior seguradora do mundo por valor de mercado, agora cota nas bolsas de Nova York a menos de US$ 0,50 por ação, após perder 99% do valor em um ano.

Em 2008, a empresa perdeu US$ 99,289 bilhões (US$ 37,84 por ação), frente aos US$ 6,2 bilhões de lucro em 2007 (US$ 2,93 por título). Somente no último trimestre de 2008, as perdas chegaram a US$ 22,95 por papel, frente aos US$ 2,08 por título um ano antes.

NÚMERO

US$ 650 milhões por dia foi quanto a seguradora AIG perdeu durante o quarto trimestre de 2008, segundo balanço